"Eu sou o que me cerca. Se eu não preservar o que me cerca, eu não me preservo".
José Ortega y Gasset

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Chamada de Bolsista PIBIC CNPq

Selecionamos estudante da FURB para realização de Iniciação Científica. Informações: Bolsa de Iniciação Científica PIBIC/CNPq, Substituição: 6 meses de vigência. Título NATUREZA E PAISAGEM DO VALE DO ITAJAÍ (SC) NAS PUBLICAÇÕES DA REVISTA BLUMENAU EM CADERNOS 1957-1960.
Professor/Orientador: Dr. Gilberto Friedenreich dos Santos
Interessados enviar e-mail para frieden@furb.br e ou gphavi.furb@gmail.com

Resumo do Projeto de IC:

A pesquisa trata das publicações da Blumenau em Cadernos referentes às representações da natureza e descrições da paisagem do Bioma Mata Atlântica no Vale do Itajaí. A diversidade natural presente no bioma Mata Atlântica representa uma fonte de recursos naturais com valores sociais, econômicos e culturais. A Reserva da Biosfera da Mata Atlântica é uma área de grande relevância para o desenvolvimento de pesquisas, conservação da biodiversidade, e implantação do desenvolvimento sustentável na área de abrangência de seus remanescentes. O Vale do Itajaí insere-se num contexto histórico que a partir da colonização europeia promove uma extensa degradação do bioma, gerando problemas ambientais que se agravaram ao longo do tempo. Nas Áreas de Tecnologias Prioritárias do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), a proposta enquadra-se em projetos de pesquisa básica, humanidades e ciências sociais. O projeto apresenta aderência em Tecnologias para o Desenvolvimento Sustentável, associado ao conhecimento produzido pela História Ambiental. O objetivo geral é analisar as publicações da Blumenau em Cadernos no período de 1957 a 1960 referentes às representações da natureza e descrições da paisagem no Vale do Itajaí. Os objetivos específicos são: 1) Identificar os recursos naturais explorados no bioma Mata Atlântica, suas formas de exploração e sua importância socioeconômica e cultural; 2) Descrever as mudanças na paisagem e os processos de degradação ambiental e; 3) Sistematizar e descrever os fenômenos e desastres socioambientais de natureza climática e as consequências no desenvolvimento regional no Vale do Itajaí. Serão consultadas fontes primárias e secundárias em arquivos históricos, bibliotecas e internet. Para a pesquisa serão consultadas as primeiras publicações da Blumenau em Cadernos no período de 1957 a 1960, correspondendo ao todo 36 publicações. Estão publicados documentos históricos de imigrantes, cientistas, viajantes, cartas, biografias, relatórios do Dr. Blumenau e de administradores, e matérias de jornais de diferentes períodos. Portanto o recorte temporal das publicações abrange desde o século XIX até a década de 1950. As informações serão organizadas e analisadas de forma linear e temporal para determinar o processo histórico de desenvolvimento do Vale do Itajaí-açu. Os resultados servirão de fundamento para propostas de manejo, gestão e planejamento (conservação da biodiversidade e melhoria da qualidade de vida).

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Notas sobre uma pequena História Ambiental da atividade da fumicultura de Botuverá-SC

A fumicultura se fixou como uma das principais atividades agrícolas do município de Botuverá, e durante a segunda metade do século XX, juntamente com a extração de madeira, assumem a totalidade da atividade econômica local. Fato foi constatado quando visitamos as comunidades de Lageado Alto e Baixo, no entorno do Parque Nacional da Serra do Itajaí em 2009, e encontramos uma paisagem quase que em sua plenitude de monocultura de fumo e eucaliptos. Nas margens dos ribeirões constatamos mudas de fumo, e sabemos o que isso significa! Tendo isso em vista aprofundamos nossas pesquisas, dando origem a uma pequena História Ambiental da Fumicultura em Botuverá. O interesse pela questão da fumicultura partiu da estudante de Ciências Sociais Ana Claudia Moser, que orientada pelos pesquisadores Gilberto e Martin identificou e analisou fontes bibliográficas, e realizou entrevistas com os fumicultores. Os resultados da pesquisa foram apresentado no VI Congresso Brasileiro de Agroecologia e II Congresso Latino-americano de Agroecologia, sendo publicado o resumo expandido na Revista Brasileira de Agroecologia, em seu volume 4, número 2 de 2009
A pesquisa evidenciou que a  paisagem da região das comunidades de Lageado Alto e Lageado Baixo em Botuverá começa a ser modificada intensamente com o início da colonização europeia por volta da década de 1860. Nas primeiras décadas as unidades familiares mantinham-se através da agricultura de subsistência, criação de animais domésticos, caça, pesca e extração de madeira nativa. O excedente de produção da unidade familiar era comercializado através de um sistema de trocas. Foi constatado que as principais dificuldades encontradas pelos imigrantes em sua adaptação, foram as características geográficas da região da Serra do Itajaí. Os fundos de vale estreitos envoltos por encostas íngremes, a distância da sede da Colônia Itajaí-Brusque (30 quilômetros) dificultada pelas péssimas condições de transporte da época, e a falta de tecnologia para desenvolver o plantio em larga escala ou meios eficazes de transportar a produção, resultaram na predominância da agricultura de subsistência e a extração de madeira em pequenas quantidades. Nesse período o cultivo do fumo era realizado apenas para o consumo próprio. 
Na década de 1940 empresas de tabaco incentivaram os agricultores, de base familiar, o cultivo comercial do fumo em suas propriedades. Neste momento, o desenvolvimento da atividade exige maior uso dos recursos naturais da região que acentua a transformação da paisagem, bem como alavanca o quadro econômico e social do município. A inserção do cultivo do fumo foi realizada por extensionistas com apoio das empresas de tabaco, que orientavam e monitoravam desde o preparo do solo até o tempo de permanência do fumo nas estufas. De acordo com relatos o cultivo era realizado em todas as tifas ou bairros: “Aqui em Botuverá cada um, cada família era uma estufa ou duas, quem não tinha três” (TOMAZIA, 2008), e os locais para as lavouras eram dos mais variados desde terrenos acidentados até várzeas próximas aos cursos de água. 
Para realizar o cultivo as famílias recebiam das empresas as mudas e os produtos químicos necessários, para a qual vendiam sua produção posteriormente, sendo os agricultores responsáveis pela construção das estufas e do corte de madeira para a lenha. O processo produtivo tinha características artesanais: o preparo do solo era iniciado com a coivara, seguindo o arado, a semeadura, a colheita, a separação do fumo e o abastecimento das estufas eram trabalhos essencialmente manuais (FACHINI, 2008). De acordo com os relatos, desde o início a atividade comercial da fumicultura provocou impactos na paisagem com a redução da mata para a expansão do cultivo e retirada de lenha para as estufas, bem como danos ao solo com técnicas inadequadas de manejo e facilitando a contaminação do solo e dos recursos hídricos. Nesse período de intensa produção também se intensificam os usos de agroquímicos e de recursos tecnológicos. Esse fenômeno é uma das consequências da Revolução Verde que compreende uma parte do processo de modernização da agricultura no Brasil.
Os avanços tecnológicos na fumicultura aparecem, nas memórias dos entrevistados, na forma de, por exemplo, bandejas e canteiros para semear, máquinas para amarrar o fumo e a ampliação da variedade de produtos químicos utilizados ao longo do processo, intensificando os impactos ambientais. Nas últimas décadas se modificaram as formas como são aplicados e os tipos de agroquímicos utilizados. Muitos dos agricultores entrevistados na comunidade olham para o passado e questionam-se a respeito do perigo que correram ao aplicar os produtos químicos enviados pela empresa na plantação de fumo sem qualquer tipo de proteção, e também do tipo de contaminação que o solo e água da região podem ter sofrido. Segundo Florit (2004), a utilização de agrotóxicos vem degradando os ecossistemas e construindo uma espécie de ciclo vicioso que amplia cada vez mais a utilização desses produtos. As estufas passam a contar com tecnologias que contribuem para o controle da temperatura, facilitando o processo de cultivo e melhorando a qualidade das safras (COMANDOLI, 2009). Paralelo a produção de fumo era realizada a agricultura de subsistência nas entre safras, por exemplo, o mesmo solo onde se cultivava o fumo era utilizado para o cultivo de milho ou aipim.
A extração de madeira tem um papel importante para o cultivo do fumo, pois é utilizada em grande quantidade no abastecimento das estufas para a secagem das folhas de fumo, como afirma Molinari Fillho (2008), “para secar, a base de 50 mil pé de fumo, vai à base de 70 ou 80 metros de lenha”. As empresas de tabaco incentivavam o cultivo de eucalipto para o  abastecimento das estufas, porém esse tipo de madeira não apresentava o mesmo retorno da madeira nativa, e conforme Molinari (2008) “se vai 20 (metros) de madeira de mato, vai 25 ou 30 de eucalipto”. O cultivo de eucalipto ganha espaço na paisagem somente nas últimas décadas como atividade complementar. Na década de 1990 as características da região passam por mais um processo de transformação. A partir desse período o fumo perde espaço no plano econômico local com a chegada de indústrias têxteis, do fortalecimento da mineração de calcário que atraem um maior interesse pela população economicamente ativa mais jovem e também do seu deslocamento para Brusque, área econômica mais dinâmica. Esses fatores levaram a mudança de hábitos tradicionais da comunidade, como a extração de madeira e a caça, ou seja, modificaram características culturais ligadas a elementos da natureza que são valorizadas pelos membros da comunidade. As políticas ambientais, aliada a ampliação e diversificação das indústrias a partir da década de 90, influenciaram na redução da atividade agrícola e no desflorestamento. A fumicultura como atividade mercantil permitiu aos agricultores a melhoria das condições econômicas e o acesso a diversos recursos tecnológicos tanto domésticos, quanto agrícolas.
Porém, segundo Frey e Wittmann (2006), os principais problemas ambientais do setor da fumicultura estão ligados às conseqüências do modelo de desenvolvimento da região, como o uso intenso de agroquímicos, o manejo inapropriado de embalagens, a contaminação do solo e dos recursos hídricos e no desflorestamento e redução das matas nativas. As políticas ambientais se direcionam no sentido de gerir de forma sustentável esse modelo agrícola. 
Foi concluído com a pesquisa que  a introdução do cultivo comercial do fumo transforma mais intensamente a paisagem de Botuverá a  partir da década de 1940 ao reduzir a cobertura vegeta nativa através da expansão da área de cultivo e da necessidade de lenha para o abastecimento das estufas; e a partir da década de 1960 a degradação do meio ambiente acentua-se com a tecnologia empregada pela revolução verde. Entretanto, os fumicultores apontaram melhoria das condições econômicas e sociais
locais. Entretanto, particularmente a partir da década de 1990, o declínio da atividade e as políticas ambientais frearam o desflorestamento e as áreas de cultivo vêm diminuindo.
Ainda não existem estudos sistematizados sobre os impactos ambientais da fumicultura nessa região, mas podemos considerar que a principal consequência do cultivo de fumo em Botuverá expressa pelos fumicultores, foi: a perda de boa parte de sua cobertura vegetal original, ocasionando na diminuição de espécies animais e vegetais, característica do tipo de vegetação da região, ocasionando um desequilíbrio na manutenção do ecossistema local; e a contaminação do solo e dos recursos hídricos locais pelo intenso uso de agroquímicos nas plantações. Mesmo com o declínio das atividades agrícolas comerciais não foram identificadas experiências de perspectiva agroecológicas para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável na região, baseadas em pequenas unidades de produção. Para acessar o estudo na integra (artigo expandido publicado) clique aqui!

Fonte/para citar o material: SANTOS, Gilberto Friendenreich dos ; MOSER, Ana Cláudia; GARROTE, M. S. . História Ambiental dos Fumicultores em Botuverá (SC). Revista Brasileira de Agroecologia, v. 4, p. 4429-4433, 2009.

domingo, 23 de janeiro de 2022

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sábado, 22 de janeiro de 2022

Colonização, desenvolvimento e ações antrópicas na floresta atlântica do Parque das Nascentes em Blumenau-SC

Os estudos do GPHAVI foram iniciados no entorno do Parque Natural Municipal Nascentes do Garcia, uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, cujo a sede localiza-se na Segunda Vargem do Rio Garcia, na comunidade da Nova Rússia, Bairro Progresso, no Sul de Blumenau. Um dos principais registros desse processo da pesquisa foi divulgado na Revista Blumenau em Cadernos, no tomo número 49, no seu numero 6 publicado em novembro/dezembro de 2008. 
A história do desenvolvimento da Nova Rússia esta ligada a forma de usos dos elementos da biodiversidade da floresta atlântica, explorando-a ao ponto de gerar desequilíbrio ecológico, processo iniciado por intervenções de caça, e coleta de palmito, e intensificado pela mineração, e exploração madeireira que avançou ameaçando os mananciais de água que abastecem Blumenau e região (Indaial, Gaspar, e Guabiruba), associado a prática de subsistência e esportiva da caça e roubo do palmito pelos colonos e interessados na exploração. 
A partir de 1973 em Blumenau inicia-se a luta preservacionista da natureza através da organização da sociedade civil. As muitas ações de biólogos, ambientalistas e ONGs passam a militar com campanhas contra o processo de exploração de madeira, caça e palmito no sul de Blumenau, no que resultou na conservação de boa parte de Floresta Atlântica, e hoje, após anos de lutas, a área passou a ser protegida pelo Parque Natural Municipal Nascentes do Garcia a partir de 1998, e integrado ao Parque Nacional da Serra do Itajaí em 2004, que além de conservar o sul de Blumenau (e Indaial) e área do PNMNG, abrange mais outros sete municípios totalizando uma área maior de 50.000 hectares de Floresta Atlântica que cobre a Serra do Itajaí. 
Foram pesquisados os fatos durante o período do início da colonização da região em 1890 até o momento de criação do PNMNG, em 1998. Identificando o processo de ocupação humana apontando as influências antrópicas ocasionadas a Floresta Atlântica, e as consequências dessa relação a floresta e à própria comunidade. Os dados foram obtidos através de uma busca de informações primárias através da História Oral, resgatando a memória de sete membros da comunidade com média etária de 70 anos, descendentes diretos dos primeiros colonizadores da região, e em fontes secundárias através de bibliografias, periódicos e demais produções científicas que retratassem a história da região da Nova Rússia e do parque, a forma de uso dos recursos da floresta, as consequências dessa interferência à Floresta Atlântica e à própria comunidade local. Para acessar na integra esse estudo clique aqui. Se preferir olhar a publicação e o restante da revista e seu conteúdo, acesse clicando aqui.

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Bugres e Onças contra a civilização

B
ugres e onças é uma nota publicada no tomo III, numero 1 de janeiro de 1960 na Revista Blumenau em Cadernos. É uma fonte rica em informações, entre elas, para analisarmos as dificuldades encontradas pelos colonizadores na Colônia Blumenau, e os seus posicionamentos frente ao ambiente. Na nota, a narrativa deixa claro o posicionamento daquela sociedade sobre a natureza, apresentando ela como uma barreira para o progresso da civilização. Fica claro o posicionamento nessa frase: "Nos primeiros anos da colonização de Blumenau, os indígenas constituiram se numa constante ameaça à expansão civilizadora". Depois afirma " Não eram, porém, êles, os únicos entraves sérios ao estabelecimento dos imigrantes, afastados da sede colonial . Sem falar nas doenças de aclimatação, nos perigos das roçadas, onde a cascavél espreitava, traiçoeira, havia, ainda, as feras, de que eram abundantes as florestas ribeirinhas do grande e do pequeno Itajaí" Depois a nota enfatiza que um desses perigos eram as onças, e haviam das pintadas e das pretas! Pelas descrições, a onça estava sempre roubando algum rebanho para se alimentar, e no clímax da narrativa ocorre um ataque de onça, e os fatos descritos, demonstram o quanto era o medo, e o especismo em reação ao animal X indígena. Bugres e onças eram caçados igualmente, e suas orelhas e  peles eram as provas pelas recompensas econômicas, isso era uma política pública da colônia, dessa sociedade e sua civilização naquele momento histórico. Tanto que cita a preocupação de Dr. Blumenau em agrupar caçadores para "proteger" as pessoas ordenando a caçada da onça. Ocorria uma disputa de território, as suas "feras", os indígenas e as onças, e os novos moradores da floresta, cada qual de sua maneira dependia do domínio e uso dos "recursos naturais".  Leia a seguir o acontecimento descrito na nota, sobre o ataque de onça causado ao imigrante irlandês Comélio Murphy, quando trabalhava na expansão da colonização na Itoupava Central em 1879. Caso queira acessar a revista onde está publicada a nota, acesse aqui.