"Eu sou o que me cerca. Se eu não preservar o que me cerca, eu não me preservo".
José Ortega y Gasset

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Antas e Jacutingas, Caça e Extinção: Uma Breve Análise Histórica da Memória Referente a Fauna Nativa





Francisco José Matias; Gabriel Pierri de Souza; 
Martin Stabel Garrote ; Gilberto Friedenreich dos Santos
Grupo de Pesquisas de História Ambiental do Vale do Itajaí – GPHAVI – Departamento de História e Geografia - Universidade Regional de Blumenau – FURB



O Parque Nacional Serra do Itajaí (PNSI), criado em 4 de julho de 2004, é uma unidade de conservação com proteção integral desde 2003, sendo este inserido dentro do Bioma Mata Atlântica e envolvendo neste o território de nove municípios pertencentes ao Vale do Itajaí.
As regiões pertencentes ao Bioma Mata Atlântica sofreram durante vários séculos  diversas alterações, sendo essas alterações feitas  por ações  antrópicas. O PNSI, mesmo como uma área de proteção ambiental, continua sofrendo alterações ao longo dos anos, criando assim um recorte interessante para estudos e pesquisas relacionados ao parque. A extinção de espécies nativas da região do PNSI remete também à memória de moradores atuais do entorno do parque. A lembrança de animais nativos, agora extintos, na região levantam discussões sobre as modificações mais recentes, feitas principalmente pela exploração madeireira e a caça, que levaram ao desaparecimento de duas espécies, a anta e a jacutinga.

Jacutinga - Anta
O principal objetivo desta pesquisa é descrever a voracidade das caçadas práticas na região e mostrar como a exacerbada caça levou duas espécies nativas a sua extinção, essas espécies são a Anta e a Jacutinga. Outro objetivo é o de resgatar a memória de moradores do entorno do PNSI em relação às caçadas, os animais hoje extintos e suas impressões sobre as intervenções humanas na fauna da região. 

Caçada Jacutinga Águas Cristalinas - 1940
Esta pesquisa utiliza diversas entrevistas efetuadas pelo GPHAVI junto a moradores do entorno do PNSI, onde os mesmo caçaram ou tem ligação com pessoas que praticaram a mesma. A principal motivação no critério de selecionar as entrevistas é a de citação referente a duas espécies que recentemente estão extintas na região do PNSI, há grande importância também de como os entrevistados lembram da quantidade ou modos de caça e qual a principal motivação por trás desta prática, variando de caça esportiva à caça de subsistência.
Em entrevistas feitas com moradores da região, temos o relato de como a caça era prática comum nas regiões próximas, ou dentro, do parque. Em entrevista feita pelo Grupo de Pesquisas de História Ambiental do Vale do Itajaí (GPHAVI, 2009) um morador da região de Botuverá comenta que era comum se avistar antas e jacutingas na região, as antas quase sempre eram vistas em casal andando em áreas próximas a rios e grotas. 
Um morador da região da Nova Rússia, também entrevistado pelo GPHAVI, chega a comentar onde foi caçada a última anta da região do PNSI “Aqueles que sumiram, foi morto tudo. A ultima anta foi morta lá em Indaial. No encano baixo lá em Indaial. Além disso foi a Jacutinga e o verdadeiro porco do mato.” (GPHAVI, 2007). A Jacutinga foi alvo de caça principalmente para ser usada como fonte de alimento sendo sua carne muito saborosa, este mesmo morador relata que a mesma era “um pássaro grande e bobinho.” e que a mesma era caçada somente pelo ar utilizando armas.

Caçada no Faxinal do Bepe - 1960
Em entrevista concedida para o GPHAVI, por um casal residente da área do “Faxinal do Bepe”, eles relatam como eram utilizados os restos mortais dos animais caçados, “O couro às vezes era vendido, mas a maioria, que matamos antas, era o meu cunhado lá do faxinal, o Ari, ele que ficava com o couro, depois ele vendia.” (GPHAVI, 2008), os mesmos descrevem também em entrevista o desaparecimento de espécies que à décadas atrás eram comuns, “Tem anta, jacutinga, passarinho não tem mais, porco de mato tem pouca coisa, veado tem algum ainda, tem algum veado. Ah, foram todas mortas, matadas, e depois entraram ali com os tratores, tirar madeira e cortaram o mato, e mataram tudo.” (GPHAVI, 2008). 

Caçada no Warnow Alto - 1960
Refletindo ao ler estes documentos vemos que a memória destes moradores esta integrada uma na outra, mesmo estes estando em comunidades distintas. A caça ainda é praticada em algumas regiões ligadas ao PNSI, as lembranças de tempos passados de uma fauna repleta de vida remetem a triste situação atual do desaparecimento de espécies nativas e da degradação ambiental não somente na fauna mas também na flora.

Referências:

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente; Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Plano de manejo Parque Nacional da Serra do Itajaí. Brasília, D.F : MMA, 2009.
MOLINARI, Alcides; MOLINARI, Rosita Venzon: 2008. Entrevistadores: Ana Claudia Moser, Gilberto Friedenreich dos Santos. Blumenau: GPHAVI, 2008.
RAUTEMBERG, Reinaldo: 2007. Entrevistador: Marcela Adriana Grandi. Blumenau: GPHAVI, 2007.
GIANESINI, Ivo. Depoimento: setembro, 2008. Entrevistadores: Ana Cláudia Moser; Martin Stabel Garrote; Vanessa Nicocelli. Blumenau: GPHAVI, 2008.


Francisco José Matias  é estudante de História e Bolsista de Iniciação Científica (PIPe 2013) no GPHAVI desde abril deste ano. Atua na pesquisa Subsídios para a História Ambiental das antigas serrarias do Sul de Blumenau território do Parque Nacional Serra do Itajaí, que conta com a parceria do ICMBio - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade .


Este texto foi publicano nos Anais da 7º Mostra de Ensino Pesquisa e Extensão da Universidade Regional de Blumenau (Anais).

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