Por José Rodrigo Sasseman* e Gilberto Friedenreich dos Santos
GPHAVI - Departamento de História e Geografia - Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional - FURB E-mail de contato: frieden@furb.br
As interações entre sociedade e natureza no
processo histórico e as transformações ambientais decorrentes, constituem a
historiografia atual denominada História Ambiental. Através desta linha de
pesquisa pretende-se entender as relações sociedade e natureza no processo
histórico de exploração artesanal do cal, no município de Botuverá (SC).
Figura 1 - Mapa da área de estudo |
O município de Botuverá está situado no Médio Vale do
Itajaí-mirim no Estado de Santa Catarina, a 21 km de Brusque. A cidade tem uma
área total de 303,02 km² sendo que cerca de 2,5 km² é de área urbana e 300,52
km² de área rural (figura 2). O relevo do município é acidentado, sendo
compostos de 18,2% com planícies 50% encostas e 31,8% de montanhas (ARONONI; PASSOS,
2003; PREFEITURA MUNICIPAL DE BOTUVERÁ, 2012).
Para compreender a historia ambiental da comunidade foram
descritas as características naturais do território a partir de análise de
campo com equipe multidisciplinar e pesquisa bibliográfica; identificação de
fontes históricas, escritas e não escritas (memória ambiental, materiais
iconográficos), e entrevistas pelo método da história oral, buscando
compreender o processo histórico de exploração do cal no período das décadas de
1930 a 1980, que neste caso acontecia de forma muito rudimentar, pois todo
trabalho era braçal, e sem recursos de maquinário industrial.
Figura 2 - Paisagem local |
A exploração
artesanal do cal teve seu início na década de 1930 atingindo seu auge na
década de sessenta, e encerrando suas atividades nos anos de 1980. O trabalho
nas pedreiras de calcário consistiam em fazer furos nas pedras com a utilização
de marretas, e este processo era árduo e dependia totalmente de força humana. Depois
das pedras detonadas, as mesmas eram colocadas manualmente em um caminhão. As
pedras que ainda estavam um pouco presas eram soltas com garfões e alavancas,
tudo isso manualmente. Essas eram transportadas até os fornos. Em Botuverá
existiam dois tipos de fornos, os chamados de ”fornos de barranco” que o
próprio nome já diz, eram feitos nas encostas de barranco, e os fornos
contínuos (figura 3), que a princípio eram menos frequentes.
Figura 3 - Fornos de Cal |
Após colocadas nos fornos as pedras de calcário eram
queimadas. Para queimar uma fornada, demoravam de 4 a 5 dias, para este processo eram utilizados cerca de
quarenta e cinqüenta metros de lenha. Através das entrevistas feitas
descobrimos que os moradores iam buscar lenha
da floresta e derrubavam a vegetação sem controle algum. Após queimar e
esfriar as pedras eram levas até o moinho, que por sua vez era a ultima etapa.
Em um primeiro momento na inexistência de fornecimento de energia elétrica na
região, os moinhos eram movidos a água (Figura 4).
Em relação as consequências da exploração artesanal do cal,
onde os trabalhadores sofriam muito com as condições que essa atividade
econômica exercia sobre eles,
além do pó do cal ser extremamente prejudicial a
saúde, o calor nos fornos traziam grandes sofrimentos aos trabalhadores. Na
década de setenta a implantação da carteira de trabalho, e o conhecimento de
leis trabalhistas as condições aos trabalhadores nesse sentido melhoraram de forma
gradativa. Existem alguns fatores que auxiliaram para o fim da
exploração do cal de maneira artesanal, que por sua vez aconteceu na década de
1980. O avanço da tecnologia, as lei trabalhistas e ambientais muito mais
rigorosas, hoje em dia a exploração do cal é feita apenas de maneira
industrial.
Figura 4 - Moinho de Cal |
*Pesquisa desenvolvida com bolsa PIPe Art. 170 \Estado e Santa Catarina
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