Vamos tratar do texto Caminhos para a História Ambiental – Ensaio sobre Abordagens e Fontes, de José Augusto Drummond, publicado na revista HALAC – Historia Ambiental, Latinoamericana y Caribeña (v.15, n.1, 2025), p. 452–484. 🔗 Disponível em: https://halacsolcha.org/index.php/halac.
Neste ensaio o pesquisador José Augusto Drummond compartilha de sua caminhada intelectual e metodológica, que percorreu para construir sua leitura e prática da História Ambiental (HA). O texto se estrutura como uma jornada teórica, vivencial e interdisciplinar, revelando não apenas fontes e conceitos, mas também dilemas, encontros e influências decisivas.
Logo na introdução, o autor esclarece sua proposta: não pretende apresentar uma metodologia rígida, mas sim reunir “observações e aprendizados sobre abordagens e fontes referentes à história ambiental” (p. 452). Trata-se de um ensaio pensado a partir de uma palestra dada em 2023, o que lhe confere um tom informal, ao mesmo tempo crítico e didático.
Drummond afirma sua filiação direta à abordagem do historiador Donald Worster, especialmente à proposta que ficou conhecida como perspectiva sócionaturalista. Essa perspectiva articula três eixos: (1) o ambiente biofísico, (2) as tecnologias de uso da natureza e (3) os valores e culturas humanas envolvidos nesse processo. Segundo o autor, para que uma pesquisa seja verdadeiramente uma história ambiental “de raiz”, ela precisa lidar com esses três níveis simultaneamente. Citando Worster, ele enfatiza:
“Um estudioso que pratica a HA de raiz [...] tem que lidar com as três dimensões.” (p. 455)
Ao longo do texto, Drummond apresenta autores que o influenciaram na construção de sua visão integrada: Julian Steward, Leslie White, Marvin Harris, Darcy Ribeiro e Carl Sauer. Ele reconhece, por exemplo, que Steward já trabalhava com uma abordagem tripartite semelhante à de Worster, sob o nome de “ecologia cultural” — estudando:
“o quadro de recursos naturais disponíveis, as tecnologias de exploração desses recursos, e os valores e estruturas sociais que emergem daí” (p. 457).
Drummond lamenta que autores como Steward e Harris sejam pouco ensinados no Brasil e destaca que, embora associados ao evolucionismo cultural, suas propostas são centrais para pensar a história das interações entre sociedade e natureza de maneira materialista, porém crítica.
Um dos trechos mais provocativos do ensaio é quando Drummond discute o tempo geológico, muitas vezes ignorado pelos historiadores sociais. Segundo ele, praticar História Ambiental exige familiaridade com escalas temporais muito mais amplas do que as comumente trabalhadas nas ciências humanas.
“O praticante da HA precisa estar antenado para — e se sentir confortável com — as dilatadas escalas de tempo que marcaram o surgimento e mudança dos componentes da natureza.” (p. 463)
Ele também critica o “paradigma da imunidade humana” — a ideia, ainda presente em parte das ciências sociais, de que a natureza não condiciona a ação humana. Em contraposição, afirma que
“as sociedades humanas [...] não são imunes às ações e aos condicionantes das variáveis naturais.” (p. 464)
Drummond encerra com uma valiosa discussão sobre fontes, métodos e instituições voltadas à História Ambiental. Ele recomenda recursos como a revista HALAC, a Sociedad Latinoamericana y Caribeña de Historia Ambiental (SOLCHA) e outras plataformas nacionais e internacionais. Também defende o trabalho de campo, incentivando os pesquisadores a “calçarem as botas” e observarem diretamente as paisagens, as marcas humanas e os conflitos ambientais nos territórios que estudam (p. 465).
Drummond deixa claro que a História Ambiental não é uma simples subcategoria da História ou da Ecologia, mas sim uma ciência histórica com base interdisciplinar, que demanda domínio conceitual e abertura ao diálogo com diferentes campos do saber.
Em sua definição mais lapidar, ele afirma:
“A HA é o estudo das interações mútuas entre o mundo das sociedades humanas e o mundo da natureza, com a suposição de que as sociedades modificam a natureza e de que a natureza faz o mesmo com as sociedades.” (p. 466)
A leitura deste ensaio é fundamental para estudantes, pesquisadores e professores interessados na História Ambiental como prática crítica e transformadora. Com uma escrita clara, provocativa e generosa, José Augusto Drummond oferece aqui não apenas uma introdução ao campo, mas um verdadeiro manifesto pelo rigor e pela interdisciplinaridade na abordagem das questões socioambientais.
📖 Leia o artigo completo na revista HALAC:
🔗 Caminhos para a História Ambiental - HALAC 2025
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