"Eu sou o que me cerca. Se eu não preservar o que me cerca, eu não me preservo".
José Ortega y Gasset

sábado, 2 de agosto de 2025

Antropoceno: um novo problema para a História Ambiental!

Você já parou para pensar em como nossas ações estão moldando o futuro do planeta?

O termo Antropoceno tem ganhado cada vez mais destaque, não só na ciência, mas também em nosso dia a dia, para descrever uma nova era geológica em que a humanidade se tornou uma força transformadora em escala planetária. Mas o que isso realmente significa para nós e para a forma como contamos a nossa própria história?

Para aprofundar essa discussão e trazer luz a um debate complexo e multifacetado, temos o prazer de apresentar o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Graduação em História, intitulado Antropoceno: um novo problema para a História Ambiental, de autoria de Desirée de Paula Irussa Martins. Realizado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sob a orientação do Professor Dr. Alfredo Ricardo Silva Lopes.

A pesquisa de Desirée de Paula Irussa Martins surge de uma inquietação pessoal e de um desejo de compreender a fundo a crise climática e suas prováveis consequências irreversíveis. O objetivo principal é localizar historicamente o debate sobre o Antropoceno e oferecer uma compreensão a partir dos preceitos teórico-metodológicos da História Ambiental. 

O estudo reconhece que, embora todos compartilhemos as consequências das transformações globais, a participação ativa e as responsabilidades nos processos que as causaram não são equitativas. A autora questiona a ideia de uma "humanidade" genérica, defendendo que é crucial identificar os sujeitos e decisões reais que levaram às perturbações ambientais. A pesquisa aponta que a narrativa inicial e dominante do Antropoceno, ao elevar o "antropos" (humano) a um agente coletivo, obscurece desigualdades e responsabilidades históricas. Ela defende que esta compreensão influencia as "soluções" propostas (como mitigação e geoengenharia) que podem não abordar as raízes sistêmicas do problema. 

O trabalho se aprofunda em narrativas alternativas ao Antropoceno, como o Chthuluceno de Donna Haraway e o Negroceno de Malcom Ferdinand. Com isso a autora buscou descentralizar o excepcionalismo humano, propondo a "simpoiése multiespécie" – a criação e colaboração entre múltiplos agentes, humanos e não humanos. Também revela as raízes coloniais e escravistas da crise ecológica, conectando a destruição ambiental à dominação colonial e ao racismo ambiental, defendendo que as lutas antirracistas e ecológicas são inseparáveis. A autora propõe pensar o Antropoceno como um cronotopo, um conceito que articula tempo e espaço em uma narrativa. Isso permite entender que a forma como nomeamos e narramos essa era tem implicações éticas e políticas, moldando nossa compreensão da crise e os caminhos que tomaremos.

Para Desirée, o estudo da História Ambiental e a busca por "cronotopos outros" (outras narrativas) são essenciais para combater a "crise imaginativa" de futuros melhores que sua geração enfrenta. A pesquisa busca não nos paralisar, mas sim possibilitar a criatividade de ação e a construção de mundos mais justos. O trabalho não defende a extinção do termo Antropoceno, que é reconhecido como útil para expandir o debate para além dos muros acadêmicos. Em vez disso, ele argumenta pela necessidade de expandir a significação do conceito, abraçando a multiplicidade de narrativas que se complementam, como os "tentáculos" de Donna Haraway e a ideia de "criar mundos" de Malcom Ferdinand.

Este TCC é um convite à reflexão crítica sobre o nosso presente e a um engajamento mais consciente na construção do futuro. Ele mostra como a História Ambiental, ao romper com visões dualistas e buscar a complexidade ambiental, é fundamental para compreender as interconexões entre sociedade e natureza, poder e cultura. Acompanhe nosso blog para mais insights sobre este tema vital!

Fonte: 
MARTINS, Desirée de Paula Irussa. Antropoceno: um novo problema para a História Ambiental. 2025. 41 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História) – Departamento de História, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2025.
Disponível em: 
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/266533/TCC%20Desir%c3%a9e%20%28vers%c3%a3o%20final%29%20%284%29.pdf?sequence=1&isAllowed=y
Acesso em: 27/07/2025

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