"Eu sou o que me cerca. Se eu não preservar o que me cerca, eu não me preservo".
José Ortega y Gasset

domingo, 30 de junho de 2024

Morro do Boi: uma experiência enriquecedora com pesquisa de Iniciação Científica


Em 2009-2010, nosso grupo vivenciou um ano bastante agitado, com diversas frentes de pesquisa em andamento. Entre essas iniciativas, uma experiência se destacou não apenas pelo caráter acadêmico, mas também pelo seu impacto social: a contribuição para a implementação da terra quilombola Quilombo Morro do Boi.

A comunidade solicitou reconhecimento em 2009, e essa demanda chegou até nós por meio do Dr. José Roberto Severino, professor do Departamento de História e então atuante na Secretaria de Cultura de Itajaí. Nosso grupo iniciou um projeto de Iniciação Científica que envolveu visitas à comunidade, caminhadas de reconhecimento e entrevistas com os moradores. Fomos calorosamente recebidos, e os relatos colhidos foram fundamentais para compreender as relações entre a sociedade e a natureza naquele território.

Embora a pesquisa e nosso contato com o processo de regulamentação não tenham avançado, isso devido as demais demandas de pesquisa naquele contexto que nos afastaram, vale ressaltar que os dados coletados proporcionaram uma compreensão valiosa sobre a cultura local e sua interconexão com o ambiente, e com isso demos um importante passo na História Ambiental do Morro do Boi. Posteriormente, essa experiência foi publicada na Revista Identidade da Unisinos.  Você pode conferir a notícia da publicação aqui.


O Quilombo Morro do Boi começou a se formar na década de 1950, quando descendentes de escravos negros das comunidades litorâneas de Santa Catarina, como o Valongo, se estabeleceram na região. Esses primeiros moradores encontraram um ambiente já modificado, com áreas de floresta secundária e capoeiras, resultado de décadas de exploração madeireira e coleta de palmito.

As práticas agrícolas e a caça eram fundamentais para o sustento das famílias. Extensas áreas foram desmatadas para o plantio de mandioca, milho e feijão, usando técnicas manuais e ferramentas simples, como enxadas e machados. A agricultura era principalmente de subsistência, com produtos raramente vendidos, mas trocados por mercadorias em comunidades vizinhas. Além da agricultura, a caça era uma atividade comum. Homens da comunidade se aventuravam na floresta para caçar aves, pacas e outros animais, usando espingardas e facões. A pesca também fazia parte do cotidiano.

O desenvolvimento da comunidade foi impulsionado pela exploração de madeira e, posteriormente, pela exploração de granito. A construção da BR-101, na década de 1970, transformou a dinâmica local, levando à desapropriação de terras agrícolas e alterando o acesso à região. A estrada trouxe tanto benefícios quanto desafios, incluindo a interrupção das atividades agrícolas em larga escala. Com o passar do tempo, a constante exploração dos recursos naturais resultou no enfraquecimento do solo e na diminuição das áreas florestais. As mudanças ambientais também impactaram a fauna local, com muitos animais desaparecendo devido à perda de habitat. 

Recentemente, ao ministrar aulas sobre a cultura catarinense, me deparei com o Quilombo Morro do Boi listado como aprovado e regulamentado. Isso me levou a uma reflexão sobre a Iniciação Científica realizada há 14 anos. Para minha surpresa, ao pesquisar no Google, vi que o estudo e o artigo haviam sido amplamente divulgados. Nosso trabalho apareceu em diversos meios, incluindo a Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP), que atua junto a indígenas e quilombolas para garantir seus direitos territoriais, culturais e políticos. 

https://cpisp.org.br/morro-do-boi/
















É gratificante perceber que uma pequena Iniciação Científica, alicerçada nos relatos orais dos moradores, pôde contribuir significativamente para o entendimento da história dessa comunidade no território. E que esse estudo provavelmente proporcionou elementos que contribuíram para a efetivação da justiça e do direito ao território para essa comunidade quilombola.
Para acessar o texto completo sobre essa experiência, clique aqui.

quarta-feira, 26 de junho de 2024

História Ambiental das invasões biológicas nos Campos do Quiriri



O artigo História Ambiental das invasões biológicas nos Campos do Quiriri, dos pesquisadores Vanessa e Martin, apresentado no segundo Segundo Simpósio Internacional de História Ambiental e Migrações em novembro de 2012, aborda uma das maiores ameaças à biodiversidade global: a contaminação biológica por espécies exóticas invasoras. De acordo com Primack e Rodrigues (2001), as perturbações causadas pelo homem têm alterado e destruído a paisagem em larga escala, levando espécies e comunidades inteiras ao ponto de extinção. As principais ameaças destacadas incluem a destruição e fragmentação do habitat, a superexploração de espécies, o aumento de doenças e a introdução de espécies exóticas.

A transferência de espécies exóticas remonta às viagens de Colombo, marcando o início de uma troca deliberada de plantas domesticadas, principalmente para atender às necessidades alimentares nas zonas temperadas do hemisfério norte (Dean, 1989). Com o tempo, muitas dessas espécies se naturalizaram e se tornaram invasoras, modificando os ecossistemas locais. Ziller (2000) define essas espécies como aquelas que, ao se estabelecerem em novos ambientes, ocupam o espaço de espécies nativas e alteram os processos ecológicos naturais.

O estudo se foca na história ambiental das invasões biológicas na Área de Proteção Ambiental (APA) Campos do Quiriri, em Campo Alegre, Santa Catarina. A região, inserida no Bioma Mata Atlântica, é um exemplo de como a introdução de espécies exóticas, como o gado e pastagens associadas, alterou significativamente a vegetação nativa. Relatos históricos e entrevistas com moradores locais fornecem uma visão detalhada de como essas práticas, iniciadas no século XIX, ainda impactam a região.

Espécies como Panicum maximum e Melinis minutiflora, introduzidas para pastagens, têm se espalhado agressivamente, substituindo a vegetação nativa. A prática de queimar campos para fortalecer pastagens exóticas contribuiu para a disseminação dessas espécies. Além disso, o cultivo de Pinus spp. nas proximidades da APA está causando a invasão dos Campos de Altitude, alterando ainda mais a paisagem natural.

O artigo destaca a importância de entender e controlar a introdução de espécies exóticas invasoras para preservar a biodiversidade. A história da APA Campos do Quiriri ilustra como a intervenção humana, sem considerações ambientais adequadas, pode levar a mudanças ecológicas significativas e potencialmente irreversíveis. Este estudo reforça a necessidade urgente de políticas de controle e gestão de espécies invasoras para proteger os ecossistemas naturais e a biodiversidade global.

Últimos Dias para Inscrições no ST "História Ambiental e Estudos das Globalidades" no XX Encontro Estadual de História ANPUH


Gostaria de comunicar que está chegando o encerramento do prazo para as inscrições no Simpósio Temático (ST) "História Ambiental e Estudos das Globalidades" no XX Encontro Estadual de História ANPUH. O evento será realizado na Universidade Regional de Blumenau entre os dias 6 e 9 de agosto de 2024.

O simpósio é coordenado por Alfredo Ricardo Silva Lopes, Samira Peruchi Moretto e Michely Cristina Ribeiro. Segundo o resumo publicado, o ST trata de questões ambientais imbricadas com a desigualdade social, a garantia e o reconhecimento dos direitos humanos, o desmatamento desenfreado, a falta de saneamento básico, entre outras.

A História Ambiental vai além de ser apenas um campo de pesquisa. Ela busca apresentar respostas à crise socioambiental que ameaça a vida dos seres vivos em todo o planeta e propõe novas formas de pensar a natureza. Desta forma, o simpósio propõe receber trabalhos que tratem das relações entre a pesquisa e o ensino de História e meio ambiente, discutindo concepções, atitudes e atividades humanas na transformação da paisagem. Isso inclui como os seres humanos alteraram o mundo rural e urbano e as consequências dessas alterações para as comunidades naturais e humanas.

Salienta-se a importância de estudos relacionados aos movimentos migratórios humanos e da flora/fauna, processos de ordenamento sanitário e saúde pública, aspectos históricos, demográficos e ambientais na formação dos territórios, e as relações com as comunidades tradicionais e a formação de identidades regionais, nacionais e transnacionais.

No simpósio, pretende-se reunir trabalhos que abordem as relações entre a pesquisa e o ensino de História e meio natural em suas diferentes dimensões, considerando conexões globais.

Acesse aqui a página do ST

Acesse aqui a página inicial do evento.

Compartilhe essa oportunidade e participe!

domingo, 9 de junho de 2024

As linhas de pesquisa do GPHAVI: um convite

O GPHAVI convida estudantes de graduação e pós-graduação a se juntarem a nós em uma jornada de exploração acadêmica e descoberta. Nosso grupo se dedica a investigar as interações entre sociedade e natureza ao longo do tempo. Conheça nossas linhas de pesquisa e descubra como você pode contribuir para um futuro mais sustentável e informado:


História Ambiental
Esta é a linha matriz do GPHAVI, centrando-se na identificação dos processos e modificações ambientais resultantes da interação entre sociedade e natureza, desde os primórdios da humanidade até os dias atuais. Analisamos as mudanças ambientais ao longo do tempo para compreender melhor os desafios atuais e desenvolver estratégias sustentáveis. Um exemplo emblemático desta linha é o projeto guarda-chuva do GPHAVI: investigar a História Ambiental do Vale do Itajaí. Aqui, exploramos como a ocupação humana e as práticas culturais moldaram a paisagem e os ecossistemas da região.

História Ambiental do Desenvolvimento Regional
Esta linha se dedica a identificar e compreender os processos históricos de ocupação e uso dos recursos naturais que moldaram o desenvolvimento regional. Analisamos as problemáticas ambientais decorrentes desses processos para propor modelos e indicadores de desenvolvimento mais sustentáveis, visando uma gestão equilibrada dos recursos naturais. Nosso objetivo é traçar um panorama histórico que ilumine as melhores práticas para o desenvolvimento sustentável da região.

Desenvolvimento Regional Sustentável
A linha de Desenvolvimento Regional Sustentável visa uma análise aprofundada do território, explorando sua diversidade histórico-cultural e os impactos socioambientais. Pesquisamos temas como gestão e análise de políticas públicas, governança, planejamento urbano e regional, e turismo. Também investigamos dinâmicas socioeconômicas, como economia solidária, ciência e tecnologia, e redes de cooperação. Nosso objetivo é promover processos efetivos de desenvolvimento regional sustentável, considerando a interconexão entre diferentes fatores que impactam a região.

Tecnologia Social, Desenvolvimento Regional e Sustentabilidade Ambiental
Nesta linha, investigamos a produção de tecnologias sociais e sua relação com o desenvolvimento regional e a sustentabilidade ambiental. Buscamos compreender como inovações tecnológicas podem ser aplicadas de maneira eficaz para promover práticas sustentáveis, contribuindo para o progresso regional de forma equitativa e ecologicamente responsável.

Ecologia da Paisagem
Abordamos a inter-relação entre processos ecológicos e a dinâmica de transformação da paisagem. Nossa pesquisa combina a perspectiva espacial do geógrafo com a visão sistêmica do ecólogo, visando compreender as complexas interações entre elementos naturais e antrópicos. Contribuímos para a gestão ambiental, oferecendo insights valiosos sobre como as mudanças ecológicas influenciam a configuração da paisagem ao longo do tempo.

Geografia Histórica
A linha de Geografia Histórica concentra-se na reconstrução de paisagens geográficas de eras anteriores e no Antropoceno. Investigamos a interação dos fenômenos e processos humanos com o ambiente ao longo do tempo, buscando oferecer uma visão aprofundada das transformações geográficas. Nossa pesquisa auxilia na compreensão das raízes históricas dos desafios ambientais atuais, fornecendo uma base sólida para soluções futuras.

Se você é estudante de graduação ou pós-graduação interessado em temas como história ambiental, desenvolvimento sustentável, ecologia da paisagem ou geografia histórica, convidamos você a se juntar ao GPHAVI. Aqui, você terá a oportunidade de trabalhar em projetos inovadores, contribuir para a pesquisa de ponta e fazer parte de uma comunidade acadêmica dedicada a um futuro sustentável.






O GPHAVI oferece uma plataforma dinâmica e interdisciplinar para explorar questões ambientais e regionais de grande relevância. Com diversas linhas de pesquisa e projetos, proporcionamos um ambiente estimulante para a investigação acadêmica. Junte-se a nós e contribua para um futuro mais sustentável e informado.

sábado, 8 de junho de 2024

A Biodiversidade da Mata Atlântica: Um Olhar Histórico no Vale do Itajaí-Açu

Gostaria de divulgar um estudo publicado pelo nosso grupo de pesquisa, intitulado A paisagem e o uso da biodiversidade da Mata Atlântica no Vale do Itajaí-Açu (Santa Catarina) no Século XIX. Esse trabalho foi conduzido pelos pesquisadores Gilberto Friedenreich dos Santos e Martin Stabel Garrote e publicado na revista Caminhos de Geografia de Uberlândia-MG, v. 23, n. 88, em agosto de 2022, nas páginas 173–188.
O estudo aborda a colonização do interior do Vale do Itajaí durante o século XIX, destacando as diversas atividades de extrativismo, como caça, pesca, exploração vegetal e madeireira na Mata Atlântica, e o uso da biodiversidade local. A pesquisa também descreve a paisagem natural da região durante esse período, marcada pela presença de extensas florestas inexploradas.  Foram utilizadas fontes como relatos de viajantes, relatórios da Colônia Blumenau, publicações de revistas e demais trabalhos acadêmicos. 

Como um resumo dos resultados, os autores apontam que os documentos históricos destacam a densidade e a riqueza das florestas inexploradas da região. O extrativismo madeireiro teve um papel crucial na economia local, com a madeira sendo um produto importante de exportação. A biodiversidade era explorada para subsistência, incluindo caça e coleta de elementos florestais. A flora local possuía uma grande variedade de espécies com diferentes propriedades, como dureza, resistência e composição química, condicionando seu uso para diversos fins. A exploração contínua da biodiversidade levou à ameaça de extinção de várias espécies, o que motivou a criação de unidades de conservação.

Este estudo é resultante das pesquisas desenvolvidas nos últimos 2 anos pelos pesquisadores. Os resultados são importantes para a pesquisa de História Ambiental da região do Vale do Itajaí-Açu, e demonstra os impactos das atividades humanas na biodiversidade loca. O estudo também destaca a importância da conservação da Mata Atlântica, a necessidade de uma gestão territorial sustentável desse patrimônio natural. Espero que essa breve apresentação tenha despertado seu interesse pelo nosso trabalho! Para mais detalhes, confira o artigo completo na revista Caminhos de Geografia, que pode ser acessado clicando aqui.

terça-feira, 4 de junho de 2024

Celebração dos 20 Anos do Grupo de Pesquisas de História Ambiental do Vale do Itajaí

É com grande alegria e orgulho que celebramos duas décadas de trajetória do Grupo de Pesquisas de História Ambiental do Vale do Itajaí (GPHAVI)! Ao longo desses 20 anos, o GPHAVI tem tipo importante papel de produção de conhecimento e engajamento na área da História Ambiental, deixando uma marca indelével não apenas na comunidade acadêmica, mas também na sociedade como um todo.

Desde a sua fundação, em 2004, o GPHAVI tem se dedicado incansavelmente à pesquisa, à reflexão e à divulgação do conhecimento sobre as interações entre o homem e o meio ambiente na região do Vale do Itajaí. Através de projetos inovadores, publicações de qualidade e eventos educativos, o grupo tem contribuído para a conscientização e preservação do nosso patrimônio ambiental.

Ao longo dos anos, o GPHAVI acumulou uma rica história de realizações. Com uma equipe de pesquisadores dedicados e apaixonados pelo tema, o grupo tem desenvolvido projetos que abrangem uma ampla gama de tópicos, desde a história das áreas naturais protegidas até as transformações socioambientais decorrentes do desenvolvimento urbano e industrial.

Além disso, o GPHAVI tem promovido uma série de iniciativas voltadas para a educação ambiental e a conscientização da população, incluindo palestras, cursos e campanhas de sensibilização. Através do seu blog e das redes sociais, o grupo tem alcançado um público cada vez maior, compartilhando conhecimento e estimulando o debate sobre questões ambientais cruciais.

Para celebrar este marco histórico, convidamos você a explorar o nosso website (www.furb.br/gphavi) e o nosso blog (www.gphavi.blogspot.com), onde você encontrará informações sobre os projetos desenvolvidos pelo grupo, publicações recentes, eventos futuros e muito mais. Junte-se a nós nesta jornada de descoberta e aprendizado, e ajude-nos a construir um futuro mais sustentável para todos!

Obrigado a todos os membros, colaboradores e apoiadores que tornaram possível esta jornada incrível. Que venham mais 20 anos de sucesso e realizações para o Grupo de Pesquisas de História Ambiental do Vale do Itajaí!

Atenciosamente,

Dr. Martin Stabel Garrote
Coordenador/Pesquisador

Grupo de Pesquisas de História Ambiental do Vale do Itajaí Completa 20 Anos

Fundadores
Amanhã, o Grupo de Pesquisas de História Ambiental do Vale do Itajaí comemora seus 20 anos de existência. Como um dos fundadores, é gratificante relembrar como tudo começou. Eu era ainda um estudante de graduação em História na FURB, profundamente interessado em pesquisa acadêmica. Naquela época, em 2002, a Iniciação Científica era o caminho ideal para estudantes como eu. No entanto, havia diversas restrições: o professor orientador precisava ser doutor, o que eliminava 90% dos professores do meu curso, e os candidatos à pesquisa tinham que ter menos de 24 anos e não ter vínculo empregatício. Para mim, que trabalhava, isso parecia um luxo impossível. Minha primeira tentativa de encontrar um orientador não teve sucesso. O professor que procurei inicialmente não se interessou pelo projeto. Outro professor, além de não aceitar, ainda questionou a validade da História Ambiental como campo de estudo. Foi então que, na disciplina de Cartografia, sob a orientação de um professor de Geografia, Dr. Gilberto Friedenreich dos Santos (um grande parceiro!) vislumbrei uma possibilidade. Estudando o livro "História da Madeira" de Perlin, preparei um banner detalhado sobre a exploração da madeira na Ilha da Madeira. Impressionei o professor de Geografia, que concordou em orientar minha Iniciação Científica.

Propus estudar a região ao redor do Parque Natural Municipal Nascentes do Garcia, onde está localizada a comunidade da Nova Rússia, no Bairro Progresso, em Blumenau. Essa área rural, com características coloniais, era habitada por descendentes dos primeiros colonizadores que se estabeleceram ali a partir de 1890, principalmente para explorar madeira e minas de prata.

Submetemos uma proposta ao PIBIC do CNPq em 2003, mas não foi aprovada devido à falta de dedicação exclusiva do professor, critério daquela época. Felizmente, a Pró-reitora de Pesquisa, através dos colegas Márcio e Rosane da PROPEX, sugeriu que reenviássemos o projeto para outro programa, o PIPE do artigo 170. Fizemos isso e tivemos sucesso.

Em 2004, a Pró-Reitoria de Pesquisa informou que deveríamos criar um grupo de pesquisa na plataforma LATTES para ser certificado pela instituição. E assim nasceu o Grupo de Pesquisas de História Ambiental do Vale do Itajaí, que completa agora 20 anos. Nos primeiros 12 anos, escrevi todos os projetos de Iniciação Científica do grupo, focando na região da Serra do Itajaí. Em 2004, foi criado o Parque Nacional da Serra do Itajaí, e descobri no Plano de Manejo que havia 32 comunidades na área, incluindo a Nova Rússia. Junto com meu colega Gilberto, começamos a pesquisar essas comunidades. Nossa parceria funcionou bem; ele submetia seus projetos, e eu os meus, sempre no nome dele. Dessa colaboração surgiram mais de 80 projetos de IC, pelos quais muitos estudantes passaram e aprenderam, com alguns continuando nessa linha de pesquisa.

Ao longo desses vinte anos, realizamos inúmeras atividades e projetos, documentados em um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) escrito por Juliano João Nazário, disponível aqui no blog.

No dia 5 de junho de 2024, celebramos duas décadas de dedicação à pesquisa da História Ambiental do Vale do Itajaí. Esta jornada foi marcada por desafios, aprendizado e grandes conquistas, e somos gratos a todos que contribuíram para essa trajetória de sucesso.

Divulgação Científica de História Ambiental e as redes sociais.

Clique para acessar
Até pouco tempo atrás, o conhecimento científico costumava ficar limitado a eventos acadêmicos e a livros físicos. Mas com o avanço da internet, tudo mudou radicalmente. A gente nem precisa ser um cientista para se deparar com informações científicas por aí, nas redes sociais. A internet tem sido tipo um tipo de difusor de conhecimento, desmistificando a ciência e levando ela pra todo lado. Assim como uma série de outras informações.

Com os celulares superpoderosos que "todo mundo tem hoje" em dia, a divulgação científica se especializou. Agora, até nas redes sociais a a divulgação científica vem ganhando espaço. A divulgação científica de História Ambiental tem bastante participação em mecanismos da internet, seja em grupos de conversação, sites, repositórios, e agora as redes sociais.

Por exemplo, o GPHAVI começou com um site próprio (que não existe mais) vinculado com a FURB, hoje ele está em http://www.furb.br/gphavi. Além do site oficial, devido a maior autonomia foi criado em 2009 o blog que está em http://gphavi.blogspot.com, além do blog o grupo surfa também no FACEBOOK, e mais recentemente no INSTAGRAM.

Quando em um momento deparei com o avanço dos espaços do grupo, e o blog, por exemplo, atingir mais de 200.000 visualizações, comecei a ficar curioso em relação a capacidade que esses mecanismos, como as redes sociais, tem em relação a divulgação científica em História Ambiental. É uma ideia que vamos desenvolver em próximas ICs, entender de que forma, pelo menos no Brasil, a História Ambiental vem ocupando o espaço na internet.

Em minha pesquisa recente, para fins de melhor entendimento do assunto para escrever o projeto de IC,  encontrei o livro "Cultivating the Spirit of the Commons in Environmental History: Digital Communities and Collections" de 2016 (https://doi.org/10.4324/9781315665924). Este livro, que aborda uma variedade de temas dentro da História Ambiental, e inclui um capítulo específico que trata da interseção entre História Ambiental e a Internet.

Dentro da seção do livro, destaco o estudo "Online Digital Communication, Networking, and Environmental History" de Sean Kheraj e K. Jan Oosthoek. Não tive acesso ao texto na integra, mas lendo o resumo já notei que o estudo oferece uma excelente reflexão sobre a evolução das tecnologias digitais e sua influência na comunicação e networking em história ambiental. Os autores afirmam que as ferramentas online têm contribuído significativamente para o avanço do campo da história ambiental, tornando-o mais acessível e interconectado.

Vou colocar o resumo traduzido aqui:

Em 23 de Janeiro de 1996, o Professor Dennis Williams da Southern Nazarene University declarou: “Hoje começa uma nova época [para] todos nós que temos discutido a história ambiental electronicamente durante os últimos anos.” Esta foi a primeira mensagem enviada para a lista de e-mail H-ASEH (mais tarde renomeada como H-Environment), agora há mais de vinte anos. H-ASEH foi o sucessor da lista de e-mail ASEH-L anterior que Williams iniciou em 1991. Embora alguns historiadores ambientais já tivessem se comunicado em redes de computadores menores e fechadas no passado, o advento das listas de e-mail e do consórcio H-Net foi o início da ampla comunicação digital online e networking entre estudiosos de história ambiental. Nas duas décadas desde que Williams postou aquela primeira mensagem, o digital online as tecnologias abriram novos caminhos para a comunicação de resultados de pesquisas e o desenvolvimento de redes de pesquisa entre historiadores ambientais. Na verdade, os historiadores ambientais têm sido líderes na utilização de tecnologias de comunicação digital online nas humanidades ambientais. Como Cheryl Lousley (2015, p. 3) escreveu recentemente: “Entre os estudiosos das humanidades ambientais, são os historiadores ambientais que têm sido mais hábeis em reconfigurar a investigação e a comunicação académica à luz das possibilidades digitais emergentes”. Este capítulo examina as mudanças no uso das tecnologias digitais on-line para comunicação e networking na comunidade de pesquisa em história ambiental. Oferece um levantamento da história das atividades de história ambiental on-line e um retrato dos usos contemporâneos de tais tecnologias. Essas tecnologias influenciaram os estudos no campo da história ambiental de várias maneiras importantes. Em primeiro lugar, facilitaram o desenvolvimento e o crescimento de redes académicas regionais, nacionais e internacionais. Em segundo lugar, alargaram o alcance dos resultados da investigação em história ambiental, tornando esta investigação acessível a comunidades fora da academia, incluindo educadores, decisões políticos, jornalistas e públicos de história pública. Finalmente, os historiadores ambientais começaram a utilizar tecnologias digitais online para o desenvolvimento de novas formas de publicação académica.

Fonte:https://www.taylorfrancis.com/books/edit/10.4324/9781315665924/methodological-challenges-nature-culture-environmental-history-research-jocelyn-thorpe-stephanie-rutherford-anders-sandberg?refId=bc5dd665-ed43-4118-96a3-8c7646bf14c4&context=ubx


Em resumo, a divulgação científica de História Ambiental na internet cresce nas redes sociais, provocando, não só maior alcance das pesquisas, como também promove uma cultura de colaboração e compartilhamento que é vital para o avanço do campo. A integração de ferramentas digitais e a adoção de uma "cultura de coletividade" são passos essenciais para conectar pesquisas dispersas, envolver um público mais amplo e garantir que o conhecimento ambiental seja utilizado para informar e melhorar as decisões humanas frente ao ambiente.

segunda-feira, 3 de junho de 2024

Considerações sobre o Desmatamento na Serra do Itajaí: analisando uma publicação da Revista Blumenau em Cadernos

O artigo "Considerações sobre o Desmatamento na Serra do Itajaí" de Maurício Mello e Cláudio Borba, publicado em 1983 na revista Blumenau em Cadernos oferece uma visão sobre a situação ambiental da Serra do Itajaí, destacando as consequências do desmatamento e a importância da preservação da mata atlântica. A relevância deste estudo se mantém atual, considerando os desafios ambientais persistentes enfrentados pela região, mesmo após a criação do Parque Nacional da Serra do Itajaí em 2004.

Conforme os autores, a Serra do Itajaí é como uma área de grande valor ecológico, abrigando um dos poucos remanescentes da mata atlântica no sul do Brasil. O artigo menciona que, desde o século XIX, pesquisadores têm utilizado essa região como um laboratório natural, enfatizando a riqueza de espécies vegetais e animais que ali existem. Mas destacam a gravidade do desmatamento na Serra do Itajaí, apontando a exploração madeireira e imobiliária como as principais causas da degradação ambiental. A retirada indiscriminada de árvores e a construção de estradas sem planejamento são citadas como práticas que levam à erosão do solo e a deslizamentos. Este fenômeno não apenas destrói o habitat natural, mas também representa uma ameaça direta às comunidades humanas locais, especialmente na região da Garcia. A perda da cobertura vegetal, combinada com a geologia frágil e a topografia íngreme, acelera a erosão e a degradação do solo. Os deslizamentos de terra e a água barrenta nos rios são indicativos de um ecossistema em colapso. Além disso, a diminuição dos recursos hídricos é uma consequência direta da devastação, afetando o abastecimento de água no Médio Vale do Itajaí.

A devastação da flora também resulta na perda de habitat para a fauna local, muitas vezes pouco estudada e compreendida. Esta perda de biodiversidade representa um golpe tanto ecológico quanto potencialmente econômico, uma vez que muitas espécies podem ter valor medicinal ou outras utilidades ainda não descobertas. O artigo conclui com um apelo urgente para a implementação de medidas de conservação. Os autores alertam que, sem intervenções imediatas, a mata atlântica da Serra do Itajaí, que outrora atraiu os colonizadores alemães pela sua beleza, pode desaparecer para sempre.

Quarenta anos após a publicação deste artigo, os desafios levantados por Mello e Borba continuam relevantes. A conservação da mata atlântica e a gestão sustentável dos recursos naturais permanecem questões cruciais. É essencial que políticas ambientais eficazes sejam implementadas e que haja uma conscientização contínua sobre a importância da preservação dos ecossistemas remanescentes. O artigo oferece uma visão crítica sobre a degradação ambiental da mata atlântica na Serra do Itajaí até a década de 1980, destacando as práticas insustentáveis de exploração madeireira e imobiliária e suas graves consequências ecológicas e sociais. Como fonte histórica, o artigo é valioso para entender as percepções e preocupações ambientais da época, além de fornecer dados essenciais para comparar a evolução das políticas de conservação e suas efetividades ao longo do tempo. Em suma, este estudo não apenas documenta a situação ambiental de uma região crucial, mas também serve como base para pesquisas interdisciplinares que exploram a complexa relação entre sociedade e natureza no Brasil.

Quer acessar a fonte original, clique aqui!