"Eu sou o que me cerca. Se eu não preservar o que me cerca, eu não me preservo".
José Ortega y Gasset

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Quanto vale um Parque Nacional? Apontamentos para a História Ambiental do Desenvolvimento das comunidades do entorno do Parque Nacional da Serra do Itajaí

Hoje trazemos uma pesquisa relevante para o desenvolvimento sustentável da região: "História Ambiental e Desenvolvimento: as comunidades e o papel do Parque Nacional da Serra do Itajaí (SC) para o desenvolvimento regional mais sustentável". O estudo, conduzido pelo pesquisador Martin em seu doutorado sob orientação do pesquisador Gilberto, investigou a memória ambiental da região, a história e os processos do desenvolvimento regional de 2004 até o início do doutorado de Martin em 2015. Inicialmente, no GPHAVI concentrou-se no Parque Natural Municipal Nascentes do Garcia e posteriormente no Parque Nacional da Serra do Itajaí e as comunidades do entorno.

A pesquisa envolveu a coleta de relatos de antigos moradores das 32 comunidades no entorno do parque, em diversas iniciativas científicas, financiadas ou não, culminando no desenvolvimento da pesquisa da tese em Desenvolvimento Regional. Segundo o pesquisador, é notável como a Revolução Industrial até hoje provoca transformações profundas no modo de vida, na configuração social, no uso do solo e no avanço das tecnologias, gerando impactos significativos no meio ambiente. 

Desde o final do século XIX, diversos movimentos sociais ambientalistas emergiram para abordar as problemáticas ambientais, destacando-se na sociedade capitalista ao tentar preservar áreas naturais dos avanços do progresso industrial. Associado a isso os avanços do conhecimento científico na ecologia e na biologia da conservação apontam a necessidade dessas áreas para a resiliência e conservação de qualidade ambiental e de serviços ambientais fundamentais para a vida humana em pleno desenvolvimento. Contudo, essas preocupações entraram em agendas de Conferencias Mundiais que discutiram a questão ambiental, e se chegou a constatação que uma das melhores soluções para amenizar, freia e restaurar a qualidade ambiental e os serviços ambientais perdidos pelas consequências do desenvolvimento, é a criação ode áreas naturais conservadas, os chamados parques ou Unidades de Conservação. Isso resultou em alguns tipos de parques, e cada tipo possui uma justificativa científica existencial, assim existem parque de proteção integral, é o espaço na vida não humana, de uma pequena parte de um todo que sobrou, e os humanos apenas podem visitar e fazer pesquisas,  assim como existem áreas onde é permitida maior interação humana no ambiente, como os Reservas Extrativistas para povos tradicionais. 

Uma das estratégias fundamentais para mitigar esses impactos tem sido a criação de áreas de proteção natural, conhecidas no Brasil como Unidades de Conservação. Na Serra do Itajaí, a exploração madeireira incentivou a formação de comunidades e um desenvolvimento inicial centrado na exploração dos recursos naturais. A partir das décadas de 1970 e 90, movimentos ambientalistas na região de Blumenau impulsionaram a conservação da Serra do Itajaí e isso levou à criação do Parque Nacional da Serra do Itajaí em 2004. Este marco trouxe consigo novos modelos de atividades econômicas, promovendo mudanças significativas no desenvolvimento local. 


O objetivo principal da pesquisa foi descrever a história ambiental do desenvolvimento das comunidades no entorno do parque, analisando tanto o período anterior quanto posterior a criação do parque. Para isso, foram utilizados dados secundários como bibliografias, documentos oficiais e relatórios de pesquisa, além de transcrições de entrevistas com antigos moradores locais, disponíveis no acervo científico do Grupo de Pesquisas de História Ambiental do Vale do Itajaí da Universidade Regional de Blumenau. Além disso, dados primários foram coletados por meio de observações de campo e entrevistas com moradores e empreendedores locais, visando compreender os modelos de desenvolvimento mais sustentáveis que emergiram com a criação do parque. A pesquisa identificou quatro fases distintas na história ambiental do desenvolvimento das comunidades no entorno do Parque Nacional da Serra do Itajaí:
  1. Primeira etapa (1850-1920): Formação e colonização do território, com ênfase na exploração da madeira e agricultura de subsistência.
  2. Segunda etapa (1920-1970): Desenvolvimento impulsionado por ciclos econômicos como a exploração da madeira, cultivos diversos e mineração, além do crescimento de manufaturas locais.
  3. Terceira etapa (1970-2004): Período marcado pelo ciclo da madeira, mineração, cultivo de fumo e arroz, e início do reflorestamento. Neste período, ocorreu uma transição demográfica significativa, com jovens migrando para centros urbanos devido às legislações ambientais e desafios na produção rural. Surgiram também espaços de lazer na região.
  4. Quarta etapa (2004 em diante): Iniciada com a criação do Parque Nacional da Serra do Itajaí, esta fase promoveu a adoção de modelos de desenvolvimento mais sustentáveis. A presença de Unidades de Conservação como o parque tem desempenhado um papel crucial no fomento ao desenvolvimento sustentável, onde a conservação ambiental se tornou uma prioridade.

O estudo mostra como a criação de uma Unidade de Conservação pode transformar a dinâmica de desenvolvimento local, deslocando-se de uma economia baseada na exploração de recursos naturais para modelos que priorizam a conservação como pilar para o uso sustentável desses recursos. Esse impacto vai além das fronteiras locais, promovendo a conservação e fortalecendo a resiliência da natureza, o que resulta na ampliação dos serviços ecossistêmicos proporcionados por áreas protegidas como o Parque Nacional da Serra do Itajaí.

É um espaço crucial para conscientizar as pessoas sobre a importância de manter áreas sem presença humana, permitindo que a natureza se regenere de maneira natural e melhore rapidamente suas condições ecológicas. Assim, o Parque Nacional da Serra do Itajaí não apenas beneficia diretamente a qualidade de vida das comunidades próximas e além, incluindo seus recursos hídricos, mas também representa um ecossistema vital para toda a vida, humana e não humana. É essencial proteger esse ambiente de interesses econômicos ou sociais que possam comprometer sua integridade, pois a saúde da vida não humana é fundamental para sustentar a vida humana.





Nenhum comentário: