"Eu sou o que me cerca. Se eu não preservar o que me cerca, eu não me preservo".
José Ortega y Gasset

sábado, 7 de setembro de 2024

A urgência do olhar do historiador para a questão ambiental


Vivemos em um momento complicado, em uma era em que a complexidade das questões ambientais requer um olhar atento e crítico de todas as áreas do conhecimento, especialmente da História. O historiador, mais do que nunca, precisa assumir um papel fundamental na análise da realidade contemporânea Através de diferentes dimensões do tempo histórico, os historiadores fornecem as ferramentas necessárias para entendermos como o passado molda o nosso presente, e um dos aspectos mais urgentes que emerge desse olhar é a crise ambiental.

O conceito de Antropoceno, é uma coisa a ser inserida nessa preocupação. Essa temática é amplamente discutida por autores como o historiador ambiental John McNeill e o sociólogo Ulrich Beck, que nos alertam para os impactos profundos das atividades humanas no planeta. Beck, em sua obra Sociedade de Risco, destaca como a modernidade criou novos riscos globais, muitos dos quais são de caráter ambiental e não mais contidos por fronteiras geográficas. McNeill, por outro lado, em Something New Under the Sun: An Environmental History of the Twentieth-Century World, explora como o século XX representou uma transformação ecológica sem precedentes, com consequências irreversíveis para o nosso planeta.

O historiador Jason W. Moore, com sua abordagem de “Capitaloceno”, argumenta que a crise ambiental está profundamente enraizada na lógica de produção capitalista que explora tanto a natureza quanto o trabalho humano. Essa perspectiva ressalta a importância de compreender o sistema econômico e social que continua a gerar crises ecológicas, o que demonstra a urgência de uma análise que transcenda os limites da História e dialogue com a Sociologia, Ecologia, Economia, entre outros campos.

Esses autores apontam para a gravidade e a complexidade da situação ambiental em que nos encontramos, sugerindo que estamos à beira de um colapso que pode comprometer a própria existência humana. O Antropoceno, como época geológica marcada pela influência dominante do ser humano, exige uma resposta comprometida e consciente por parte dos cientistas. O papel do historiador, então, é crucial para evidenciar aquilo que muitas vezes a sociedade escolhe ignorar ou minimizar.

Diante desse cenário, o historiador deve assumir a responsabilidade de trabalhar de forma interdisciplinar, colaborando com outros cientistas para produzir um conhecimento que atenda às necessidades das novas gerações, orientando-as sobre a gravidade das questões ambientais. A História Ambiental emerge como uma ferramenta poderosa para este propósito, fornecendo um arcabouço teórico e metodológico que permite explorar como as práticas humanas transformaram o meio ambiente ao longo do tempo, e como essas transformações, por sua vez, moldaram o desenvolvimento humano.

Essa perspectiva exige que o historiador não apenas analise o passado, mas também projete suas análises para o futuro, ajudando a identificar os problemas ambientais que enfrentamos hoje e apontando para soluções mais sustentáveis. Ao trazer à tona as histórias não contadas de degradação e resistência, o historiador ambiental pode ajudar a moldar políticas mais conscientes e promover o debate público em diferentes esferas, desde a academia até as comunidades locais.

O compromisso ético e político do historiador, portanto, deve estar centrado em produzir conhecimento que desperte preocupações reais sobre o futuro do planeta. Este conhecimento pode se transformar em uma ferramenta vital para a construção de novos modelos de desenvolvimento que respeitem os limites ecológicos e promovam a sustentabilidade. Assim, a História Ambiental, em sua abordagem interdisciplinar, não apenas ilumina o passado, mas também oferece caminhos para um futuro mais equilibrado e consciente.

Nenhum comentário: