Fonte: Angelina Wittmann |
Foi um momento que a colônia enfrentava sérias dificuldades financeiras e o Dr. Blumenau as de saúde. Os problemas aumentaram obviamente com o aumento do número de imigrantes e pela falta de recursos para cumprir seus compromissos. A colônia contava com uma estrutura inicial de serviços e pequenas indústrias, e o contato com os indígenas não foi positivo para ambas as partes. A questão do etnocentrismo e evolucionismo social, imaginário daquela época, fez o colonizador se inimizar do indígena, e o contato foi entendido como ataque, roubo etc. Com isso Dr. Blumenau solicitou reforços de segurança ao governo. Mas houve muita falta de apoio do presidente da Província e a instabilidade se agravou. Apesar de sua dedicação e esforço, as condições adversas o forçaram a desistir de continuar o empreendimento por conta própria, era o início da história da nossa região.
Fonte: https://angelinawittmann.blogspot.com/2017/02/alguns-acontecimentos-colonia-blumenau.html |
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Ao olhar o documento a partir do viés da História Ambiental, a História da colônia Blumenau revela uma relação interconectada entre os desafios da colonização, a natureza local e as interações humanas. Eu pessoalmente acredito que sem a dimensão ambiental o entendimento sobre a história local é incompleta. Por exemplo, quando a colônia passou ao controle do Governo Imperial, o fundador já estava envolto em uma série de dificuldades, tanto econômicas, proporcionadas pela falta de conhecimento, controle e domesticação do ambiente, havia uma dependência de que as relações humanas na introdução de cultivares no novo solo desse certo! O relatório de 1857, um documento crucial, expressa claramente os obstáculos enfrentados pela colônia, especialmente no que diz respeito à manutenção das operações em meio a condições naturais adversas e à escassez de recursos com aumento de população.
Posteriormente, o relato menciona a chegada de 290 imigrantes em 1856, o que gerou uma grande pressão sobre os já limitados recursos naturais e financeiros da colônia de Blumenau. Esse aumento populacional demandou a abertura de novas áreas na mata, o preparo de tábuas a partir das madeiras extraídas de árvores de grande valor, e intensificou a caça, que era a principal fonte de alimentação dos colonos. Apesar da abundância inicial de animais, a exploração exacerbada do território e a expansão dos assentamentos também levaram a conflitos com os povos indígenas, cuja presença e domínio territorial foram diretamente afetados. Além disso, essa expansão populacional e territorial teve impacto direto no próprio ordenamento econômico da colônia, que precisou adaptar-se para acomodar as novas demandas e enfrentar os desafios impostos por esse rápido crescimento.
O relatório de 1857 menciona que "a pequena indústria estava representada por cinco engenhos de farinha de mandioca; cinco de açúcar, dotados de centrífuga para refiná-lo; três alambiques para cachaça e álcool; dois moinhos de fubá e dois engenhos de serrar madeira". Esse trecho evidencia como os recursos locais foram adaptados para sustentar a economia da colônia, refletindo a dependência dos colonos na exploração ambiental para a subsistência. O desenvolvimento inicial da colônia exigiu grande exploração dos recursos florestais. Os colonos, recém-chegados da Europa, enfrentaram o desafio de se adaptar à realidade da Mata Atlântica brasileira, que diferia significativamente dos ambientes e solos europeus. A adaptação foi um processo complexo, uma vez que muitos imigrantes possuíam conhecimentos e habilidades limitados para lidar com as condições locais. No entanto, com o tempo e muito esforço, os colonos começaram a aprender e a utilizar os recursos naturais de maneira mais eficiente, explorando o potencial agrícola e industrial da região.
A sobrevivência e o desenvolvimento da colônia dependiam da exploração equilibrada da floresta para obter materiais de construção, lenha, e espaço para plantações. Além disso, a produção agrícola inicial era limitada e focada principalmente na subsistência. Com o passar dos anos, a diversidade de pequenas indústrias, como a produção de açúcar, cachaça e madeira serrada, ajudou a estabelecer uma base econômica que sustentava a comunidade. Apesar das dificuldades iniciais, os colonos conseguiram superar muitos desafios graças à capacidade de adaptação e ao uso dos recursos naturais disponíveis. O processo de desenvolvimento, porém, foi marcado por tentativas e erros, onde o aprendizado com a natureza e o aprimoramento de técnicas agrícolas e industriais foram cruciais para garantir a sobrevivência e o crescimento da colônia. Esse processo de adaptação dos colonos europeus a um ambiente desconhecido é um testemunho da resiliência e capacidade de inovação da comunidade, que, mesmo diante de condições adversas, conseguiu construir uma base sólida para o futuro desenvolvimento econômico e social da região.
Tendo em vista as informações até então citadas, podemos analisar que a instalação de pequenas indústrias na Floresta Atlântica no século XIX provocou uma série de impactos ambientais significativos naquele momento, como o desmatamento extensivo para abertura de áreas e obtenção de madeira, erosão e degradação do solo devido à remoção da cobertura vegetal, e poluição dos recursos hídricos com resíduos industriais. Além disso, houve uma redução da fauna local devido ao aumento da caça e perda de habitat, assim como a diminuição da diversidade vegetal pela extração de espécies nativas. A fragmentação de habitats e a alteração do microclima regional, com mudanças nos padrões de temperatura e precipitação, também foram consequências importantes nas alterações da ecologia que antes estava em fluxo no espaço geográfico.
Além das dificuldades econômicas, o relatório menciona a presença de indígenas que, em 1852 e 1856, atacaram a colônia, no ponto de vista do colonizador, e ressaltando o conflito com os habitantes originais do território é válido destacar: “Desde o primeiro ataque dos índios, em 1852, Blumenau vinha insistindo para que aquela guarda ficasse sob o seu comando, na colônia” (Relatório Blumenau, 1857). Isso reflete o impacto da colonização europeia sobre as populações indígenas e a falta de administração da situação por parte do civilizado, ao ver o indígena como obstáculo, constituindo uma necessidade constante de reforçar a segurança, o que também demonstra a preocupação do colonizador, seu espanto em estar em uma espaço em um ponto de vista "inóspito". Como sabemos, os próximos episódios dessa história de contato entre essas populações (indígena e alienígena) na disputa e desenvolvimento do território do Vale do Itajaí não foram nada "civilizadas"!
No documento, a descrição dos desafios ambientais é central. Ele aborda desde as inundações até as flutuações inesperadas nos preços, evidenciando a interdependência entre a biodiversidade, convertida em recursos naturais, e o desenvolvimento da economia local. A falta de compreensão sobre o clima, o solo, a hidrografia, a vegetação e as populações nativas, em grande parte decorrente de um viés etnocêntrico, resultou em uma gestão inadequada do território. Os problemas da colônia foram agravadas pelas condições naturais, levando Blumenau a comentar amargamente: "Essa mudança foi, em efeito, tão enorme e tanto além de todas as pressuposições razoáveis, que, completamente e para grande prejuízo e desânimo meus, destruiu todos os meus cálculos anteriores" (Relatório Blumenau, 1857).
Em síntese, a análise deste recorte, produzido pelo relatório do Dr. Blumenau da colônia em 1857, expõe o complexo cenário enfrentado pelos colonos na empreitada de dominação e domesticação do meio natural. Desde a necessidade de adaptação à geografia e aos recursos naturais locais, até os conflitos com os indígenas e as dificuldades financeiras resultantes de eventos ambientais imprevistos, o documento revela a resiliência necessária para sobreviver e prosperar em um território que, por décadas, foi moldado tanto pelos desafios naturais quanto pelas decisões humanas.
Fonte do documento analisado:
REVISTA BLUMENAU em Cadernos. Blumenau em 1857. Revista Blumenau em Cadernos, tomo 1, n.1. 1957. p.2-4.
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