"Eu sou o que me cerca. Se eu não preservar o que me cerca, eu não me preservo".
José Ortega y Gasset

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

As preocupações de 1954 sobre as enchentes em uma reportagem da Blumenau em Cadernos

Queremos aqui expor uma analise do texto publicado na Blumenau em Cadernos intitulado "Problema de Administração Municipal: as enchentes do Itajaí", no seu segundo número em dezembro de 1957. O texto reflete uma preocupação persistente com os desastres naturais que afetam Blumenau e os municípios adjacentes, destacando as enchentes periódicas do rio Itajaí-açu. A análise desse relato sob a perspectiva da História Ambiental permite entender as interações entre a sociedade, o meio ambiente e a administração pública em um determinado contexto histórico do Vale do Itajaí, assim como as implicações dessas interações para a gestão dos recursos hídricos.

As enchentes do Itajaí-açu não são apenas um fenômeno natural; elas revelam uma complexa rede de relações entre o ambiente e as práticas humanas de exploração. Historicamente, as comunidades ao longo do rio têm enfrentado desafios relacionados às cheias, e a incapacidade das administrações em lidar de forma eficaz com esses eventos ressalta a falta de planejamento e gestão adequada.  Neste sentido podemos constatar uma enorme falta de entendimento sobre o funcionamento do ambiente, o que demonstro um predomínio de olhar centrado na manipulação do ambiente, buscando controlar a força da natureza por meio de intervenções estruturais.

Fonte: https://cortinadopassado.com.br/2019/01/14/primeiros-moradores-da-colonia-blumenau-1857/comment-page-1/


A proposta de retificação do leito do Itajaí na Ponta Aguda evidencia a busca por soluções rápidas, mas, ao mesmo tempo, destaca as limitações do pensamento engenheirístico, pois é mencionada a possibilidade de agravamento das enchentes devido ao pequeno declive do leito do rio, o que sublinha a complexidade do sistema hídrico. A falta de um entendimento mais profundo das dinâmicas fluviais e de como as intervenções podem interagir com as condições naturais pode resultar em soluções que, em vez de resolver, complicam ainda mais o problema.

A convocação ao Departamento de Portos, Rios e Canais para realizar estudos sobre as propostas é um indicativo da necessidade de embasamento técnico nas decisões sobre a gestão hídrica. No entanto, a ausência de transparência nas conclusões e a falta de divulgação de pareceres mostram uma desconexão entre as autoridades e a comunidade. A participação de especialistas e a promoção de um debate público sobre as soluções possíveis são fundamentais para construir um conhecimento compartilhado e desenvolver soluções que atendam às necessidades da população.

O texto ressalta a história das enchentes como um aspecto relevante da memória coletiva de Blumenau. A repetição dos desastres a cada chuvarada reforça uma cultura de receio e vulnerabilidade. Essa memória não deve ser vista apenas como um testemunho do passado, mas como um elemento vital na formação de políticas públicas e na conscientização sobre a importância da resiliência comunitária frente a desastres naturais. O reconhecimento da história local pode auxiliar na construção de estratégias de mitigação e adaptação mais eficazes.

Embora o texto não mencione diretamente as mudanças climáticas, a preocupação com enchentes constantes insinua a necessidade de uma análise crítica do impacto das alterações climáticas sobre os eventos hidrológicos. A crescente intensidade e frequência das chuvas associadas a fenômenos climáticos extremos exigem que as administrações públicas considerem essas variáveis nas suas estratégias de gestão hídrica. Uma abordagem proativa que integre a adaptação às mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável se torna essencial para mitigar os efeitos das enchentes.

Este texto analisado do "Blumenau em Cadernos" revela-se uma rica fonte de estudo sobre História Ambiental e serve como um alerta para a gestão dos recursos hídricos. As enchentes são um lembrete constante da vulnerabilidade das comunidades e da necessidade de um planejamento mais integrado e sustentável. O desafio vai além da engenharia; envolve uma compreensão profunda das dinâmicas ambientais, a valorização da memória coletiva e a promoção da participação comunitária nas decisões que moldam o futuro das cidades afetadas por desastres naturais.

Para acessar o original clique aqui.

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