"Eu sou o que me cerca. Se eu não preservar o que me cerca, eu não me preservo".
José Ortega y Gasset

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

As preocupações de 1954 sobre as enchentes em uma reportagem da Blumenau em Cadernos

Queremos aqui expor uma analise do texto publicado na Blumenau em Cadernos intitulado "Problema de Administração Municipal: as enchentes do Itajaí", no seu segundo número em dezembro de 1957. O texto reflete uma preocupação persistente com os desastres naturais que afetam Blumenau e os municípios adjacentes, destacando as enchentes periódicas do rio Itajaí-açu. A análise desse relato sob a perspectiva da História Ambiental permite entender as interações entre a sociedade, o meio ambiente e a administração pública em um determinado contexto histórico do Vale do Itajaí, assim como as implicações dessas interações para a gestão dos recursos hídricos.

As enchentes do Itajaí-açu não são apenas um fenômeno natural; elas revelam uma complexa rede de relações entre o ambiente e as práticas humanas de exploração. Historicamente, as comunidades ao longo do rio têm enfrentado desafios relacionados às cheias, e a incapacidade das administrações em lidar de forma eficaz com esses eventos ressalta a falta de planejamento e gestão adequada.  Neste sentido podemos constatar uma enorme falta de entendimento sobre o funcionamento do ambiente, o que demonstro um predomínio de olhar centrado na manipulação do ambiente, buscando controlar a força da natureza por meio de intervenções estruturais.

Fonte: https://cortinadopassado.com.br/2019/01/14/primeiros-moradores-da-colonia-blumenau-1857/comment-page-1/


A proposta de retificação do leito do Itajaí na Ponta Aguda evidencia a busca por soluções rápidas, mas, ao mesmo tempo, destaca as limitações do pensamento engenheirístico, pois é mencionada a possibilidade de agravamento das enchentes devido ao pequeno declive do leito do rio, o que sublinha a complexidade do sistema hídrico. A falta de um entendimento mais profundo das dinâmicas fluviais e de como as intervenções podem interagir com as condições naturais pode resultar em soluções que, em vez de resolver, complicam ainda mais o problema.

A convocação ao Departamento de Portos, Rios e Canais para realizar estudos sobre as propostas é um indicativo da necessidade de embasamento técnico nas decisões sobre a gestão hídrica. No entanto, a ausência de transparência nas conclusões e a falta de divulgação de pareceres mostram uma desconexão entre as autoridades e a comunidade. A participação de especialistas e a promoção de um debate público sobre as soluções possíveis são fundamentais para construir um conhecimento compartilhado e desenvolver soluções que atendam às necessidades da população.

O texto ressalta a história das enchentes como um aspecto relevante da memória coletiva de Blumenau. A repetição dos desastres a cada chuvarada reforça uma cultura de receio e vulnerabilidade. Essa memória não deve ser vista apenas como um testemunho do passado, mas como um elemento vital na formação de políticas públicas e na conscientização sobre a importância da resiliência comunitária frente a desastres naturais. O reconhecimento da história local pode auxiliar na construção de estratégias de mitigação e adaptação mais eficazes.

Embora o texto não mencione diretamente as mudanças climáticas, a preocupação com enchentes constantes insinua a necessidade de uma análise crítica do impacto das alterações climáticas sobre os eventos hidrológicos. A crescente intensidade e frequência das chuvas associadas a fenômenos climáticos extremos exigem que as administrações públicas considerem essas variáveis nas suas estratégias de gestão hídrica. Uma abordagem proativa que integre a adaptação às mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável se torna essencial para mitigar os efeitos das enchentes.

Este texto analisado do "Blumenau em Cadernos" revela-se uma rica fonte de estudo sobre História Ambiental e serve como um alerta para a gestão dos recursos hídricos. As enchentes são um lembrete constante da vulnerabilidade das comunidades e da necessidade de um planejamento mais integrado e sustentável. O desafio vai além da engenharia; envolve uma compreensão profunda das dinâmicas ambientais, a valorização da memória coletiva e a promoção da participação comunitária nas decisões que moldam o futuro das cidades afetadas por desastres naturais.

Para acessar o original clique aqui.

domingo, 29 de setembro de 2024

Um julgamento acertado? O ambiente e seu papel no processo histórico da colonização.


Em um outro documento no mesmo número da Revista Blumenau em Cadernos (Tomo1, n.1) dando continuidade da nossa postagem anterior, analisamos o texto "Um julgamento acertado" (possivelmente escrito por José Ferreira da Silva, embora sem autoria definida na fonte) revela os desafios enfrentados pelo Dr. Hermann Blumenau durante os primeiros anos da colônia. O relato evidencia os problemas que levaram o fundador a transferir o controle da colônia para o Governo Imperial e traz informações valiosas para compreendermos como o processo de colonização de Blumenau pode ser analisado sob a ótica da história ambiental, ressaltando a importância da dimensão ambiental na construção da história local/regional.

Fonte: Angelina Wittmann
Os primeiros nove anos da colônia foram marcados por dificuldades intensas para Dr. Blumenau. O fundador enfrentava a escassez de recursos financeiros para atender à crescente demanda de imigrantes que chegavam ao local. A necessidade de demarcar lotes, construir infraestrutura e fornecer suprimentos básicos era constante, enquanto o ambiente local, com suas características desafiadoras, complicava ainda mais a situação. O documento descreve como a falta de entendimento sobre o solo, o clima e a hidrografia da região levou a um planejamento inadequado. A tentativa de adaptação dos métodos agrícolas europeus à nova realidade enfrentou obstáculos, e a exploração dos recursos naturais, como madeira e solo, gerou consequências que impactaram a sustentabilidade do empreendimento.



Dr. Blumenau teve algum apoio financeiro do governo, mas os empréstimos concedidos não foram suficientes para resolver os problemas estruturais da colônia. O aumento da população, sem a correspondente ampliação de recursos e infraestrutura, levou a um desequilíbrio. O relato do escritor francês Charles Ribeyrolles, em 1859, expressa o pessimismo sobre o futuro da colônia, destacando que a iniciativa individual, por mais dedicada e enérgica, não seria capaz de garantir o sucesso do empreendimento. Ribeyrolles comenta a dificuldade de manter a colônia operante sem suporte governamental adequado e a ausência de uma gestão eficiente dos recursos naturais. A precariedade das vias de comunicação e a falta de planejamento no uso da terra criaram um ciclo de crise, comprometendo a estabilidade da colônia e a confiança dos imigrantes e investidores.

A análise do documento revela como a natureza atuava simultaneamente como obstáculo e recurso para os colonos. A fertilidade do solo e a abundância de madeira eram atrativos, mas o desconhecimento das técnicas adequadas para exploração sustentável levou a um desgaste dos recursos. A colonização exigiu um processo de adaptação ao ambiente da Mata Atlântica, com solos e climas muito diferentes dos europeus. A dificuldade de adaptar as práticas agrícolas tradicionais e a falta de infraestrutura adequada resultaram em problemas de produção e abastecimento.

O relatório de 1857 menciona os produtos cultivados com sucesso, como arroz, mandioca e cana-de-açúcar, além da criação de gado e aves, mas ressalta a dificuldade de expandir essa produção sem uma infraestrutura de transporte e comunicação eficiente. A necessidade de expandir o cultivo e a construção de infraestruturas, como estradas e pontes, levou ao desmatamento e à degradação do solo, aumentando os riscos de erosão e impactando a hidrografia local. Além disso, a pressão sobre a fauna local, com o aumento da caça e a destruição de habitats, resultou na redução da biodiversidade e em conflitos com as populações indígenas, que tiveram seu território e recursos ameaçados. Esse contexto revela que a colonização trouxe não apenas impactos econômicos e sociais, mas também significativas transformações ambientais, muitas das quais contribuíram para crises subsequentes na região. 

Diante das dificuldades enfrentadas, Dr. Blumenau optou por transferir o controle da colônia para o Governo Imperial. A decisão foi motivada pela falta de condições para continuar o empreendimento de forma sustentável, e reflete a incapacidade de lidar com os desafios ambientais e sociais sem um suporte institucional mais robusto. Esse movimento marcou o início de uma nova fase para a colônia, mas também evidencia como os limites impostos pelo ambiente natural e a gestão inadequada dos recursos podem determinar o sucesso ou fracasso de um projeto colonial.

O documento "Um julgamento acertado" nos permite uma análise aprofundada dos desafios enfrentados na fundação de Blumenau, enfatizando como a relação entre a sociedade humana e o meio ambiente foi central para a trajetória da colônia. O olhar através de um óculos de história ambiental produz uma paisagem da situação demonstrando que, Dr. Blumenau, sem uma compreensão e administração do uso da terra, não conseguiu uma adaptação adequada ao ambiente, e o desenvolvimento enfrentousérios entraves, tornando-o mais árduo.

A experiência de Blumenau, com suas dificuldades e sucessos, é um exemplo claro de como a interação entre os fatores ambientais e sociais molda a história, e como a gestão dos recursos naturais é crucial para o desenvolvimento sustentável de qualquer comunidade. 


Fonte do documento analisado:

REVISTA BLUMENAU em Cadernos. Blumenau em 1857. Revista Blumenau em Cadernos, tomo 1, n.1. 1957. p.16-17.

Pode ser acessado online, clique aqui!

sábado, 28 de setembro de 2024

Relatório de Dr. Blumenau em 1857: um olhar pelo viés da História Ambiental.

Fonte: Angelina Wittmann
Vamos analisar aqui um pequeno recorde da História de Blumenau, trata-se do texto Blumenau em 1857, publicado no primeiro numero da Blumenau em cadernos em 1957. O texto aborda a história da colônia de Blumenau no contexto da transição da posse de Dr. Blumenau para o domínio do Governo Imperial, que ocorreu devido aos diversos desafios acumulados ao longo dos anos, e que se entrelaçaram com as questões ambientais.

Foi um momento que a colônia enfrentava sérias dificuldades financeiras e o Dr. Blumenau as de saúde. Os problemas aumentaram obviamente com o aumento do número de imigrantes e pela falta de recursos para cumprir seus compromissos. A colônia contava com uma estrutura inicial de serviços e pequenas indústrias, e o contato com os indígenas não foi positivo para ambas as partes. A questão do etnocentrismo e evolucionismo social, imaginário daquela época, fez o colonizador se inimizar do indígena, e o contato foi entendido como ataque, roubo etc. Com isso Dr. Blumenau solicitou reforços de segurança ao governo. Mas houve muita falta de apoio do presidente da Província e a instabilidade se agravou. Apesar de sua dedicação e esforço, as condições adversas o forçaram a desistir de continuar o empreendimento por conta própria, era o início da história da nossa região.

Fonte: https://angelinawittmann.blogspot.com/2017/02/alguns-acontecimentos-colonia-blumenau.html


Fonte: https://angelinawittmann.blogspot.com/2017/02/alguns-acontecimentos-colonia-blumenau.html


Ao olhar o documento a partir do viés da História Ambiental, a História da colônia Blumenau revela uma relação interconectada entre os desafios da colonização, a natureza local e as interações humanas. Eu pessoalmente acredito que sem a dimensão ambiental o entendimento sobre a história local é incompleta.  Por exemplo, quando a colônia passou ao controle do Governo Imperial, o fundador já estava envolto em uma série de dificuldades, tanto econômicas, proporcionadas pela falta de conhecimento, controle e domesticação do ambiente, havia uma dependência de que as relações humanas na introdução de cultivares no novo solo desse certo! O relatório de 1857, um documento crucial, expressa claramente os obstáculos enfrentados pela colônia, especialmente no que diz respeito à manutenção das operações em meio a condições naturais adversas e à escassez de recursos com aumento de população.

Posteriormente, o relato menciona a chegada de 290 imigrantes em 1856, o que gerou uma grande pressão sobre os já limitados recursos naturais e financeiros da colônia de Blumenau. Esse aumento populacional demandou a abertura de novas áreas na mata, o preparo de tábuas a partir das madeiras extraídas de árvores de grande valor, e intensificou a caça, que era a principal fonte de alimentação dos colonos. Apesar da abundância inicial de animais, a exploração exacerbada do território e a expansão dos assentamentos também levaram a conflitos com os povos indígenas, cuja presença e domínio territorial foram diretamente afetados. Além disso, essa expansão populacional e territorial teve impacto direto no próprio ordenamento econômico da colônia, que precisou adaptar-se para acomodar as novas demandas e enfrentar os desafios impostos por esse rápido crescimento.

O relatório de 1857 menciona que "a pequena indústria estava representada por cinco engenhos de farinha de mandioca; cinco de açúcar, dotados de centrífuga para refiná-lo; três alambiques para cachaça e álcool; dois moinhos de fubá e dois engenhos de serrar madeira". Esse trecho evidencia como os recursos locais foram adaptados para sustentar a economia da colônia, refletindo a dependência dos colonos na exploração ambiental para a subsistência. O desenvolvimento inicial da colônia exigiu grande exploração dos recursos florestais. Os colonos, recém-chegados da Europa, enfrentaram o desafio de se adaptar à realidade da Mata Atlântica brasileira, que diferia significativamente dos ambientes e solos europeus. A adaptação foi um processo complexo, uma vez que muitos imigrantes possuíam conhecimentos e habilidades limitados para lidar com as condições locais. No entanto, com o tempo e muito esforço, os colonos começaram a aprender e a utilizar os recursos naturais de maneira mais eficiente, explorando o potencial agrícola e industrial da região.

A sobrevivência e o desenvolvimento da colônia dependiam da exploração equilibrada da floresta para obter materiais de construção, lenha, e espaço para plantações. Além disso, a produção agrícola inicial era limitada e focada principalmente na subsistência. Com o passar dos anos, a diversidade de pequenas indústrias, como a produção de açúcar, cachaça e madeira serrada, ajudou a estabelecer uma base econômica que sustentava a comunidade. Apesar das dificuldades iniciais, os colonos conseguiram superar muitos desafios graças à capacidade de adaptação e ao uso dos recursos naturais disponíveis. O processo de desenvolvimento, porém, foi marcado por tentativas e erros, onde o aprendizado com a natureza e o aprimoramento de técnicas agrícolas e industriais foram cruciais para garantir a sobrevivência e o crescimento da colônia. Esse processo de adaptação dos colonos europeus a um ambiente desconhecido é um testemunho da resiliência e capacidade de inovação da comunidade, que, mesmo diante de condições adversas, conseguiu construir uma base sólida para o futuro desenvolvimento econômico e social da região.

Tendo em vista as informações até então citadas, podemos analisar que a instalação de pequenas indústrias na Floresta Atlântica no século XIX provocou uma série de impactos ambientais significativos naquele momento, como o desmatamento extensivo para abertura de áreas e obtenção de madeira, erosão e degradação do solo devido à remoção da cobertura vegetal, e poluição dos recursos hídricos com resíduos industriais. Além disso, houve uma redução da fauna local devido ao aumento da caça e perda de habitat, assim como a diminuição da diversidade vegetal pela extração de espécies nativas. A fragmentação de habitats e a alteração do microclima regional, com mudanças nos padrões de temperatura e precipitação, também foram consequências importantes nas alterações da ecologia que antes estava em fluxo no espaço geográfico. 

Além das dificuldades econômicas, o relatório menciona a presença de indígenas que, em 1852 e 1856, atacaram a colônia, no ponto de vista do colonizador, e ressaltando o conflito com os habitantes originais do território é válido destacar: “Desde o primeiro ataque dos índios, em 1852, Blumenau vinha insistindo para que aquela guarda ficasse sob o seu comando, na colônia” (Relatório Blumenau, 1857). Isso reflete o impacto da colonização europeia sobre as populações indígenas e a falta de administração da situação por parte do civilizado, ao ver o indígena como obstáculo, constituindo uma necessidade constante de reforçar a segurança, o que também demonstra a preocupação do colonizador, seu espanto em estar em uma espaço em um ponto de vista "inóspito". Como sabemos, os próximos episódios dessa história de contato entre essas populações (indígena e alienígena) na disputa e desenvolvimento do território do Vale do Itajaí não foram nada "civilizadas"!

No documento, a descrição dos desafios ambientais é central. Ele aborda desde as inundações até as flutuações inesperadas nos preços, evidenciando a interdependência entre a biodiversidade, convertida em recursos naturais, e o desenvolvimento da economia local. A falta de compreensão sobre o clima, o solo, a hidrografia, a vegetação e as populações nativas, em grande parte decorrente de um viés etnocêntrico, resultou em uma gestão inadequada do território. Os problemas da colônia foram agravadas pelas condições naturais, levando Blumenau a comentar amargamente: "Essa mudança foi, em efeito, tão enorme e tanto além de todas as pressuposições razoáveis, que, completamente e para grande prejuízo e desânimo meus, destruiu todos os meus cálculos anteriores" (Relatório Blumenau, 1857). 

Em síntese, a análise deste recorte, produzido pelo relatório do Dr. Blumenau da colônia em 1857, expõe o complexo cenário enfrentado pelos colonos na empreitada de dominação e domesticação do meio natural. Desde a necessidade de adaptação à geografia e aos recursos naturais locais, até os conflitos com os indígenas e as dificuldades financeiras resultantes de eventos ambientais imprevistos, o documento revela a resiliência necessária para sobreviver e prosperar em um território que, por décadas, foi moldado tanto pelos desafios naturais quanto pelas decisões humanas.


Fonte do documento analisado:
REVISTA BLUMENAU em Cadernos. Blumenau em 1857. Revista Blumenau em Cadernos, tomo 1, n.1. 1957. p.2-4.

Pode ser acessado online, clique aqui!

Quer conhecer um pouco mais, recomendamos os seguinte blog:






segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Finalização da pesquisa de Iniciação Científica: Uma abordagem interdisciplinar no estudo da água na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu (SC)

Comunicamos a conclusão da pesquisa de Iniciação Científica "Uma Abordagem Interdisciplinar no Estudo da Água na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu (SC)", realizada pelas estudantes de História da FURB, Larissa Warmeling, Beatriz da Cruz Pinheiro e Victória Haina Bachmann, sob a orientação do professor Gilberto Friedenreich dos Santos. Esta pesquisa, fomentada pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) do CNPq, teve como foco analisar a relação entre o ciclo hidrossocial e a história ambiental da água, bem como sua importância para o desenvolvimento regional na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu desde o século XIX.

A pesquisa revelou que a água desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento econômico e social dos municípios da região, moldando as relações sociais e políticas ao longo do tempo. A partir do século XIX, a imigração europeia para a região intensificou a demanda por água, alterando ecossistemas locais, como a Mata Atlântica, e deixando marcas profundas na paisagem e na organização socioeconômica da área. 



O estudo destacou que o uso da água se tornou uma questão central na geopolítica local, com disputas entre os setores agrícola, industrial e de abastecimento urbano, especialmente em períodos de escassez, evidenciando a importância de uma gestão equilibrada dos recursos hídricos. Foram identificados problemas graves como a poluição e o desmatamento, reforçando a necessidade de uma gestão hídrica que leve em conta as dinâmicas sociais e as necessidades das comunidades locais. A pesquisa enfatizou o conceito de ciclo hidrossocial para compreender as desigualdades no acesso à água e as relações de poder que influenciam sua gestão. As estudantes sugerem a adoção de uma abordagem integrada para enfrentar esses desafios. As autoras argumentam que as políticas públicas voltadas para a gestão da água precisam ser reavaliadas à luz da história ambiental e das dinâmicas sociais da região, a fim de promover um desenvolvimento mais sustentável e inclusivo.


As estudantes participaram recentemente da 18ª Mostra Integrada de Pesquisas (MIPE), onde apresentaram os resultados de sua pesquisa na modalidade pôster. Este evento proporcionou uma excelente oportunidade para divulgar os achados e fomentar discussões sobre os desafios e as possíveis soluções para a gestão hídrica na Bacia do Rio Itajaí-Açu. A pesquisa, desenvolvida com o apoio do PIBIC/CNPq, reforça a relevância das abordagens interdisciplinares para a compreensão dos problemas ambientais e sociais e aponta direções importantes para a gestão sustentável da água em nossa região.

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Uma mini história ambiental: a reforma do canal do Bom Retiro em 1954, Blumenau, SC.

Nos últimos anos, diversas pesquisas de Iniciação Científica (IC) têm analisado a água nas publicações da Blumenau em Cadernos. Uma das primeiras pistas encontradas refere-se ao papel da água na gestão dos recursos hídricos. Neste contexto, o texto Problemas da Administração Municipal: o canal do Bom Retiro, publicado na Blumenau em Cadernos, tomo 1 de 1957 (p. 19), oferece informações interessantes produzidas no contexto histórico da cidade em 1954, e que ajudam a entender algumas coisas a partir do olhar histórico ambiental, especialmente no que diz respeito à gestão da água e ao impacto das intervenções humanas.

A análise do texto sobre o canal Bom Retiro, expresso nas palavras do ex-prefeito J. Ferreira da Silva, revela uma série de interações que abordando  questões técnicas sobre a canalização e o estado do canal, assim como abre um espaço para uma análise aprofundada dentro da perspectiva da História Ambiental.

A canalização do ribeirão Bom Retiro, realizada em parte com bueiros de concreto e tubos de zinco "Armco", exemplifica como as intervenções humanas buscam controlar a natureza para atender necessidades urbanas, como a drenagem e a prevenção de inundações. Essa transformação do ambiente natural em um espaço urbanizado não só modifica a paisagem, mas também reflete uma visão utilitarista da água como um recurso a ser gerenciado. A obra, embora tenha contribuído para o embelezamento do centro urbano, revela uma dualidade: a busca pelo progresso urbano em detrimento de um entendimento mais profundo sobre a dinâmica ecológica da região.

O relato sobre as falhas no bueiro de cimento ilustra os conflitos que surgem com a manipulação do ambiente. A preocupação do ex-prefeito com a segurança da canalização destaca os riscos associados a intervenções mal planejadas. A cedência do bueiro devido à pressão do aterro é um exemplo claro de como a falta de atenção a fatores naturais pode resultar em consequências imprevistas. Isso levanta questões sobre a resiliência das infraestruturas urbanas frente a eventos climáticos e pressões ambientais, revelando a fragilidade das soluções tradicionais de engenharia, principalmente quando olhamos os efeitos das mudanças climáticas nos dias atuais. Será que as cidades estão preparadas?

Naquele momento, a proposta de desviar o curso do ribeirão Bom Retiro para o ribeirão Garcia refletiu uma busca por soluções mais adequadas e sustentáveis na gestão hídrica. Mas ao mesmo tempo isso acarretaria impactos nos processos ecológicos daquele ambiente. O texto também enfatiza a importância de registrar a história local, incluindo os desafios enfrentados ao longo do tempo. A narrativa do ex-prefeito traz à tona a memória coletiva das intervenções na água, as preocupações dos primeiros imigrantes e a evolução da cidade. Esta memória é essencial para compreender as interações passadas entre as comunidades e seu ambiente, ajudando a moldar as práticas contemporâneas de gestão hídrica.

Embora o texto não mencione diretamente as mudanças climáticas, as preocupações sobre cheias e a segurança da canalização refletem um contexto mais amplo de vulnerabilidade a eventos climáticos extremos. Essas referências nos convidam a refletir sobre como as comunidades se adaptam e respondem a tais mudanças ao longo do tempo. Em um cenário de incertezas climáticas, a resiliência das infraestruturas e a capacidade de adaptação das comunidades tornam-se cruciais.

A menção a reuniões com autoridades, como o governador, destaca a interseção entre política, sociedade e meio ambiente. As decisões sobre a gestão da água envolvem negociações complexas entre diversos interesses e stakeholders, mostrando como as vozes comunitárias e as preocupações locais devem ser integradas nos processos de tomada de decisão. A urgência expressa pelo ex-prefeito em agir rapidamente ressalta a necessidade de uma governança participativa e responsável.

Com isso podemos ver que as preocupações de Ferreira da Silva sobre o canal Bom Retiro revelam uma rica tapeçaria de interações sociedade natureza em Blumenau. Os desafios da gestão hídrica, as intervenções humanas e a importância da memória histórica foram elementos cruciais para entender como a cidade se relaciona com seu ambiente. Ao refletirmos sobre esses aspectos, podemos cultivar uma abordagem mais sustentável e consciente em relação à água, um recurso vital que conecta as experiências passadas às práticas futuras. A gestão da água, portanto, deve ser vista não apenas como uma questão técnica, mas como um componente integral da identidade cultural e da história de Blumenau.

O original analisado pode ser acessado na revista Blumenau em Cadernos, clique aqui.

Para saber mais esse tema já foi abordado nas seguintes postagens:

Apontamentos sobre o ciclo hidrossocial no Antigo Egito







quarta-feira, 18 de setembro de 2024

O velho cemitério de Blumenau: memórias e transformações urbanas

A análise do texto de José Ferreira da Silva, "Um pouco de Romance", publicado em 1957, revela uma relação interessante entre o espaço natural e as narrativas de vida e morte, especialmente no contexto do velho cemitério católico de Blumenau. Essa análise destaca a importância do ambiente físico e natural na construção da memória coletiva e das identidades culturais, refletindo sobre como as transformações urbanas impactam não apenas a paisagem, mas também as histórias que ela abriga.

O texto inicia com uma descrição vívida do cemitério, localizado em uma elevação que oferece uma vista panorâmica do Itajaí. Esse espaço é apresentado como um "recanto de paz", onde ciprestes, azáleas e lírios criam um ambiente de tranquilidade. Aqui, a natureza não é apenas um pano de fundo, mas um elemento que compõe o próprio sentido do lugar. As plantas e a fauna contribuem para uma atmosfera que remete ao sagrado e ao respeito pelos mortos, enfatizando a relação simbiótica entre a vida e a morte.

A passagem que menciona a demolição do cemitério e o "arrasar a colina" para a urbanização do local representa um momento de ruptura. Esse ato não é apenas físico, mas cultural e emocional, refletindo como as cidades modernas frequentemente priorizam o desenvolvimento urbano em detrimento da memória histórica e da natureza. A escolha de eliminar um espaço que guarda as histórias de colonos e imigrantes revela um descompasso entre o progresso e a preservação cultural.

O texto em si aborda a história da baronesa Leontina, entrelaçada com a paisagem de Blumenau, expande a análise para incluir como as experiências individuais se conectam com o ambiente. Leontina, cuja vida e morte são marcadas pela transição de um espaço europeu aristocrático para o contexto rural brasileiro, exemplifica a tensão entre o passado e o presente. Sua narrativa é enriquecida pelo cenário natural que a rodeia, contrastando com a dureza de sua vida e as tragédias que enfrenta.

Vale destacar para fins de uma análise histórico ambiental as narrativas sobre a transformação do cemitério para fins de urbanização, que não apenas apaga as memórias individuais, mas também altera a percepção coletiva do espaço, que passa a ser associado a um passado cada vez mais esquecido. O cemitério, um espaço que deveria ser sagrado e de reflexão, é despojado de seu significado.

A análise do texto de Ferreira da Silva sob a lente ocular da História Ambiental revelam na narrativa da história algumas relações entre natureza, memória e identidade cultural em Blumenau. O cemitério, como microcosmo da história da cidade, ilustra a luta entre a modernidade e a preservação do legado histórico. A narrativa da baronesa Leontina não apenas destaca as experiências individuais, mas também serve como um lembrete da importância de reconhecer e respeitar os espaços que guardam as histórias das comunidades e suas interações com o ambiente. Essa reflexão nos convida a considerar como as decisões contemporâneas de urbanização podem impactar não apenas o presente, mas também a forma como as futuras gerações se conectarão com seu passado.

Para acessar a edição onde se encontra o texto analisado clique aqui.

Caso você tenha alguma notícia histórica sobre o cemitério destacado, imagens ou recortes de jornais entre em contato para podermos melhorar a divulgação das transformações do espaço urbano em Blumenau. 

sábado, 14 de setembro de 2024

Interdependência ou morte: a importância da Amazônia para a regulação do clima e suas implicações nas escalas regionais e globais

Olá, pessoal! Gostaríamos de compartilhar um texto relevante das pesquisadoras Beate Frank e Lúcia Sevegnani, que explora a interdependência entre os ambientes terrestres e o clima, com foco especial na distribuição de chuvas no sul do Brasil. As autoras destacam a importância crucial das florestas, em especial a Amazônica e a Atlântica, para o equilíbrio climático no país. Essa interdependência influencia diretamente a formação de nuvens, a distribuição das chuvas e, consequentemente, o desenvolvimento socioeconômico em várias regiões.


Atualmente, como mostrado na imagem acima, o trajeto percorrido pela fumaça das queimadas segue o mesmo percurso dos chamados "rios aéreos", afetando as regiões distantes. O que arde no Norte acaba impactando o Sul. Mesmo que nossa região tenha a floresta e a umidade relativamente preservadas em comparação com outras áreas do Brasil, estamos sentindo cada vez mais os efeitos das queimadas no Centro-Oeste e no Norte, devido às conexões climáticas entre essas áreas.

O texto das pesquisadoras trata da importância das chuvas, e elas alertam para a necessidade urgente de políticas governamentais adequadas para enfrentar esses desafios. O mesmo vale para as queimadas: estamos vendo um claro despreparo na mitigação desse problema. Precisamos refletir com mais cuidado na escolha de nossos representantes, garantindo que eles priorizem ações voltadas à proteção do meio ambiente e à sustentabilidade.

Essa temática já foi abordada em outra postagem do blog, veja: 


A interdependência entre vastas florestas e clima não é facilmente percebida, mas ela existe e vem sendo comprovada pela Ciência. Agora essa interdependência precisa ser considerada na formulação de uma política de sustentabilidade para o país. Se assim não for feito, o colapso socioeconômico será uma consequência inevitável. A possibilidade de desenvolvimento brasileiro nas próximas décadas, portanto, depende da opção política “interdependência ou morte”. Não optar pela consideração da importância da floresta como nó central da teia da vida equivale a optar pela morte, não apenas no sentido metafórico. Vamos examinar porque.Há muito tempo é sabido que a evaporação é um fenômeno muito mais intenso sobre os oceanos do que sobre os continentes. Da mesma forma, há mais formação de nuvens sobre os oceanos do que sobre os continentes. Descobertas recentes mostram que florestas extensas, por gerar áreas de baixa pressão atmosférica, têm a capacidade de atrair umidade acumulada sobre os oceanos, fazendo-as mover-se para o interior dos continentes. Por isso, a primeira interdependência da floresta amazônica com o clima é que ela, a floresta, é responsável por atrair grande quantidade de umidade para o continente sul-americano.

Outra interdependência é a formação de nuvens pela própria floresta amazônica, explicando sua importância na regulação climática. A esse respeito distinguem-se duas funções da floresta. Uma delas é a liberação de compostos orgânicos voláteis (VOCx) que têm a propriedade de aglutinar as moléculas de água no ar, formando gotículas no interior das nuvens e tornando-as mais densas. Isso favorece a precipitação sobre a Amazônia. A outra função da floresta é a própria formação das nuvens. Estudos efetuados pelo LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia, projeto internacional de pesquisa liderado pelo Brasil) mostraram que em áreas onde ocorreram desmatamento e queimadas as nuvens têm conteúdo muito menor de vapor de água do que as nuvens formadas sobre florestas. Verificou-se, assim, que a floresta amazônica funciona como uma bomba – uma bomba biótica de umidade atmosférica – que leva água do solo para a atmosfera, do oceano em direção a oeste, até a cordilheira dos Andes. No interior dos continentes, em ambientes distantes da costa, a tendência é que o clima apresente alternância de estação chuvosa e estação seca, e a floresta tem um papel importante na interiorização da umidade que promove a estação chuvosa. Em síntese, a segunda interdependência entre a floresta amazônica e o clima é que a chuva sobre a floresta amazônica é resultado da existência da própria floresta.

A seguir examinaremos a interdependência entre a Amazônia e a distribuição de chuvas no país.

As nuvens formadas na Amazônia podem ser deslocadas por longas distâncias, em função das correntes atmosféricas, provocando abundantes precipitações sobre o Centro-oeste, o Sudeste e o Sul, viabilizando a produção agrícola em extensas áreas nessas regiões do Brasil. Portanto, a alta disponibilidade hídrica no Brasil, em grande parte, é fruto das nuvens produzidas e transportadas a partir da floresta amazônica. A umidade trazida pelas massas de ar tropical continental (oriundas da Amazônia) viabiliza, neste caso, o desenvolvimento social e econômico nas regiões Centro-oeste, Sudeste e Sul. Em outras palavras, a produção de energia elétrica, a produção industrial e o grande contingente de população urbana, todos altamente dependentes de água, são, em última análise, dependentes da floresta amazônica e também da floresta atlântica. Ou seja, tal é a interdependência entre a floresta e o clima nas regiões brasileiras, que para propiciar nosso desenvolvimento é imprescindível garantir a operação, no presente e no futuro, da bomba biótica de umidade atmosférica.

As chuvas e a umidade no Sul e Sudeste têm origem na massa de ar tropical continental (amazônica) e também na massa de ar tropical atlântica (oriundas do oceano atlântico). Próximo à costa atlântica do Sul e do Sudeste existem barreiras naturais - Serra do Mar e Serra Geral - para o deslocamento das massas de ar vindas do oceano no sentido oeste. Por isso, apenas parte da umidade é deslocada continente à dentro, graças à existência das florestas do bioma Mata Atlântica, por meio da bomba biótica de umidade atmosférica. O oeste dessas regiões, bem como a Argentina e o Paraguai, são mais dependentes do macroclima (das massas de ar úmido vindas da Amazônia), enquanto a distribuição temporal da precipitação dela decorrente (mesoclima) depende das florestas regionais, ou seja, da Mata Atlântica. Segundo estudos recentes para São Paulo, somente fragmentos de florestas com área superior a 1000 km2 são capazes de influenciar a distribuição temporal da precipitação, ou seja, a ocorrência de chuvas é interdependente do tamanho das áreas florestais.

Como na região central e oeste dos estados do Sul e do Sudeste do Brasil as extensas e densas florestas foram eliminadas em praticamente todo o território, remanescendo fragmentos isolados com extensão, em geral, inferior a 10 hectares, o efeito da bomba biótica de umidade atmosférica está enfraquecido, tanto para distribuir as chuvas temporalmente quanto para atrair a umidade vinda do oceano em direção ao interior do continente. Essa alteração potencializa a ocorrência de eventos hídricos extremos - longas estiagens e precipitações muito intensas - mesmo que a quantidade total de chuvas permaneça semelhante a antes do desmatamento, bem como favorece os vendavais, pela ausência de rugosidade da superfície do solo conferida pelas florestas.

O efeito desse fenômeno pode ser sentido através das estiagens prolongadas que vem se sucedendo no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, como por exemplo de 2003 a 2006 e agora em 2009. Os eventos ocorridos no ano passado em Santa Catarina são emblemáticos das mudanças em curso: no desastre de novembro de 2008, catorze municípios decretaram estado de calamidade pública em consequência das chuvas e sessenta e três decretaram situação de emergência. Cinco meses depois, em maio de 2009, no Oeste de Santa Catarina, 108 municípios decretaram situação de emergência devido à falta de água, causada pela ausência prolongada de chuvas. Considerando a influência da floresta sobre a formação e a distribuição de nuvens, a ausência de extensos territórios florestados na região da Mata Atlântica e, com ela, a ineficiência da bomba biótica de umidade atmosférica, tem-se aí uma explicação convincente da má distribuição de chuvas na região. Eis, portanto, outra interdependência cujas consequências apontam no sentido do colapso.

O antídoto ou a reversão do quadro das mudanças climáticas regionais é dependente de uma política de sustentabilidade consistente, que considere o conhecimento científico sobre as interdependências entre floresta e clima, procurando evitar o colapso. Além de promover a conservação da floresta amazônica e a aplicação séria do Código Florestal brasileiro, é necessário e urgente criar e ampliar unidades de conservação, iguais ou superiores a 1000 km2, recuperando, inclusive, florestas onde já não existem. Precisamos destas áreas naturais protegidas, para reduzir a ocorrência de eventos extremos e para garantir água para as gerações atuais e futuras da sociedade brasileira. É disso que depende a produção agrícola, a produção energética, a produção industrial e o desenvolvimento urbano. Tudo que precisamos é o contrário do que defendem os ruralistas, cujos interesses foram astuciosamente expressos no código ambiental de Santa Catarina, que ignora tanto a interdependência entre floresta e clima e o consequente aumento de risco de eventos extremos e a disponibilidade ou não de água, quanto a necessária redução da vulnerabilidade dos assentamentos humanos.

Clamamos a favor da opção pela interdependência, ao contrário da opção pela morte!

O texto é de Beate Frank, e Lúcia Sevegnani (in memoriam), cientistas e professoras na Universidade Regional de Blumenau.

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Primeira reunião da IC: "A Divulgação Científica de História Ambiental nas Redes Sociais"

Na última quarta-feira 11/09, demos início às atividades do projeto de Iniciação Científica "A Divulgação Científica de História Ambiental nas Redes Sociais", coordenado pelo professor Gilberto com orientação do pesquisador Martin. Durante o encontro, os estudantes bolsistas PIBIC-CNPq Ensino Médio, Letycia e Gabriell, da ETEVI, tiveram a oportunidade de conhecer o espaço do GPHAVI, explorar os detalhes da pesquisa e receber as leituras preliminares que irão orientar o desenvolvimento do projeto.



Na foto (da esquerda para direita: Gabriell, Letycia e Martin), no primeiro encontro, onde discutimos as estratégias iniciais e definimos os próximos passos da investigação. O projeto faz parte da iniciativa mais ampla intitulada "A Divulgação Científica nas Redes Sociais", que já conta com uma página dedicada em nosso blog, confira.

Fiquem atentos às nossas redes sociais e ao blog para acompanhar o progresso da pesquisa e as novidades que virão!

Página do projeto clique aqui!

Outras publicações relevantes:

Projeto de Pesquisa: A Divulgação Científica em Redes Sociais


sábado, 7 de setembro de 2024

A urgência do olhar do historiador para a questão ambiental


Vivemos em um momento complicado, em uma era em que a complexidade das questões ambientais requer um olhar atento e crítico de todas as áreas do conhecimento, especialmente da História. O historiador, mais do que nunca, precisa assumir um papel fundamental na análise da realidade contemporânea Através de diferentes dimensões do tempo histórico, os historiadores fornecem as ferramentas necessárias para entendermos como o passado molda o nosso presente, e um dos aspectos mais urgentes que emerge desse olhar é a crise ambiental.

O conceito de Antropoceno, é uma coisa a ser inserida nessa preocupação. Essa temática é amplamente discutida por autores como o historiador ambiental John McNeill e o sociólogo Ulrich Beck, que nos alertam para os impactos profundos das atividades humanas no planeta. Beck, em sua obra Sociedade de Risco, destaca como a modernidade criou novos riscos globais, muitos dos quais são de caráter ambiental e não mais contidos por fronteiras geográficas. McNeill, por outro lado, em Something New Under the Sun: An Environmental History of the Twentieth-Century World, explora como o século XX representou uma transformação ecológica sem precedentes, com consequências irreversíveis para o nosso planeta.

O historiador Jason W. Moore, com sua abordagem de “Capitaloceno”, argumenta que a crise ambiental está profundamente enraizada na lógica de produção capitalista que explora tanto a natureza quanto o trabalho humano. Essa perspectiva ressalta a importância de compreender o sistema econômico e social que continua a gerar crises ecológicas, o que demonstra a urgência de uma análise que transcenda os limites da História e dialogue com a Sociologia, Ecologia, Economia, entre outros campos.

Esses autores apontam para a gravidade e a complexidade da situação ambiental em que nos encontramos, sugerindo que estamos à beira de um colapso que pode comprometer a própria existência humana. O Antropoceno, como época geológica marcada pela influência dominante do ser humano, exige uma resposta comprometida e consciente por parte dos cientistas. O papel do historiador, então, é crucial para evidenciar aquilo que muitas vezes a sociedade escolhe ignorar ou minimizar.

Diante desse cenário, o historiador deve assumir a responsabilidade de trabalhar de forma interdisciplinar, colaborando com outros cientistas para produzir um conhecimento que atenda às necessidades das novas gerações, orientando-as sobre a gravidade das questões ambientais. A História Ambiental emerge como uma ferramenta poderosa para este propósito, fornecendo um arcabouço teórico e metodológico que permite explorar como as práticas humanas transformaram o meio ambiente ao longo do tempo, e como essas transformações, por sua vez, moldaram o desenvolvimento humano.

Essa perspectiva exige que o historiador não apenas analise o passado, mas também projete suas análises para o futuro, ajudando a identificar os problemas ambientais que enfrentamos hoje e apontando para soluções mais sustentáveis. Ao trazer à tona as histórias não contadas de degradação e resistência, o historiador ambiental pode ajudar a moldar políticas mais conscientes e promover o debate público em diferentes esferas, desde a academia até as comunidades locais.

O compromisso ético e político do historiador, portanto, deve estar centrado em produzir conhecimento que desperte preocupações reais sobre o futuro do planeta. Este conhecimento pode se transformar em uma ferramenta vital para a construção de novos modelos de desenvolvimento que respeitem os limites ecológicos e promovam a sustentabilidade. Assim, a História Ambiental, em sua abordagem interdisciplinar, não apenas ilumina o passado, mas também oferece caminhos para um futuro mais equilibrado e consciente.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Pontapé Inicial na IC de História Ambiental da agropecuária no Vale do Itajaí (SC) nos séculos XVIII e XIX

Começamos as atividades do projeto de Iniciação Científica (IC) sobre a História Ambiental da agropecuária no Vale do Itajaí. Os estudantes Francine Amaro e Felipe de França Rodrigues, do curso de Arquitetura da Universidade Regional de Blumenau (FURB), começaram suas atividades na última quinta-feira, dia 5 de setembro. A pesquisa é desenvolvida no contexto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - PIBIC - CNPq.

Da direita para esquerda: Francine, Gilberto, Felipe e Martin

Este projeto de IC oferece uma oportunidade única para os alunos explorarem a história ambiental e o desenvolvimento da agropecuária no Vale do Itajaí entre os séculos XVIII e XIX. Coordenado pelo Dr. Gilberto Friedenreich dos Santos, o projeto se concentra em investigar a introdução de espécies exóticas por imigrantes alemães e o impacto das práticas agrícolas e pecuárias no ecossistema local. O objetivo é identificar as espécies introduzidas, analisar as mudanças na paisagem, biodiversidade e qualidade da água, bem como o uso do solo ao longo do tempo.

As atividades de IC, com duração de 12 meses, incluem leituras, fichamentos, organização de resenhas, apresentação de resultados e produção de relatórios e artigos científicos. Essas atividades serão realizadas no Centro de Pesquisa Histórica, na sala R-109, sede do GPHAVI. Além de aprofundarem seus conhecimentos, os estudantes também terão a chance de desenvolver suas habilidades de pesquisa e contribuir para o entendimento da história regional.

O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) é uma iniciativa que incentiva a pesquisa entre estudantes de graduação, permitindo que eles desenvolvam projetos sob a orientação de professores e recebam bolsas como incentivo. Na Universidade Regional de Blumenau (FURB), o Grupo de Pesquisa em História Ambiental do Vale do Itajaí (GPHAVI), vinculado ao Departamento de História e Geografia e ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, desenvolve pesquisas há mais de 20 anos com foco na abordagem teórica e metodológica da História Ambiental. O PIBIC, por meio dessas atividades, promove o desenvolvimento do pensamento científico, a inovação e a preparação para carreiras acadêmicas e profissionais, estimulando a produção de conhecimento na universidade.