O texto trata sobre um território protegido pelo Parque Nacional da Serra do Itajaí (PNSI), criado em junho de 2004, com uma área de 57.374 hectares, assim como trata do seu papel na preservação da Floresta Atlântica e sua biodiversidade. O parque abrange 9 municípios de Santa Catarina, incluindo Apiúna, Ascurra, Botuverá, Blumenau e outros. Antes da criação do PNSI, comunidades humanas já ocupavam a região, e sua interação com a floresta foi marcada principalmente pela exploração e destruição dos recursos naturais.
O estudo apresenta que, com a chegada dos colonos europeus no século XIX, ocorreram alterações profundas na paisagem da Serra do Itajaí, uma vez que estes novos moradores passaram a encarar a floresta como um obstáculo a ser dominado para o desenvolvimento de uma civilização moldada pelos padrões europeus. Os colonizadores, provenientes de países como Alemanha, Itália, Rússia e Polônia, ocuparam a floresta de maneira irracional, derrubando-a para dar lugar a moradias, campos agrícolas e pastagens. O impacto ambiental foi severo, com ecossistemas destruídos à medida que o território foi sendo colonizado.
O texto menciona um levantamento realizado pela ACAPRENA (Associação Catarinense de Preservação da Natureza, momento pré Plano de Manejo da UC), que identificou mais de 30 comunidades no entorno do PNSI, algumas das quais entornam e adentram na área do parque criado. Antes disso, estas comunidades em sua interação e interdependência ambiental contribuíram para a criação de estágios variados de sucessão ecológica, desde áreas com capoeirinha até matas secundárias com elevado índice de regeneração. A presença humana e o processo de colonização ameaçam as relações ecológicas da floresta.
O Grupo de Pesquisas de História Ambiental do Vale do Itajaí (GPHAVI) desenvolveu pesquisas para documentar a História Ambiental das comunidades que rodeiam o PNSI, utilizando a História Oral como metodologia central. Entre 2004 e 2009, o grupo realizou pesquisas em municípios como Apiúna, Blumenau, Botuverá, Gaspar e Indaial, coletando a memória dos antigos moradores sobre suas relações com a natureza. A história oral permitiu o resgate de memórias valiosas sobre como a floresta foi sendo transformada ao longo do tempo, e como a biodiversidade se tornou um recurso essencial para a sobrevivência das comunidades.
As entrevistas realizadas com 30 moradores, com média etária de 75 anos, das comunidades em Botuverá (Salto de Águas, Beira Rio, Lageado Central, Lageado Baixo, Lageado Alto, Ribeirão do Ouro, Areias Alta e Areias Baixa) As entrevistas proporcionaram uma memória coletiva rica em detalhes sobre os usos da floresta, desde a caça e pesca até a agricultura e extração de madeira, ouro, cal e calcário. Os relatos demonstraram como a natureza foi sendo progressivamente humanizada, adaptada para atender às necessidades de sobrevivência e desenvolvimento das comunidades.
Fornos de Cal - GPHAVI |
Além disso, o texto discute as vantagens e limitações da História Oral como metodologia para a pesquisa em História Ambiental. Embora existam desafios, como a subjetividade e a necessidade de estar atento às reconstruções narrativas, o método permite o resgate de informações não documentadas, preenchendo lacunas na historiografia e oferecendo uma visão mais completa da história das interações entre sociedade e natureza.
O uso da memória como fonte histórica permitiu ao GPHAVI reconstruir parte da história do passado ambiental da região, oferecendo um panorama detalhado sobre as transformações da paisagem, as práticas culturais associadas ao uso dos recursos naturais e as consequências ecológicas da exploração ao longo do tempo, contadas pelos próprios sujeitos constituintes da história local. A pesquisa evidencia a importância da história oral na construção de uma história ambiental rica e contextualizada, especialmente em regiões onde a historiografia tradicional é escassa e não tem como foco de objeto de estudo. Nestas regiões a memória é fundamental para a construção da História. E como as pessoas tem um ciclo rápido de existência, é de suma importância o interesse nas pessoas mais velhas pois nelas a memória ajuda a estabelecer quadros históricos do passado inexistentes em fontes documentais.
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