"Eu sou o que me cerca. Se eu não preservar o que me cerca, eu não me preservo".
José Ortega y Gasset

quinta-feira, 19 de junho de 2025

O papel da História Ambiental na educação contemporânea



O artigo escrito por Nathália Moro, Anelisa Gregoleti e Christian Fausto dos Santos propõe uma reflexão interdisciplinar e pedagógica sobre o papel da História Ambiental no contexto educacional contemporâneo. Segundo os autores, a proposta da História Ambiental é “redefinir a perspectiva histórica convencional”, promovendo análises que integrem as dimensões políticas, sociais, culturais e ambientais.

Essa abordagem, ainda rara nas escolas e pouco explorada na formação docente, tem o potencial de aproximar os estudantes da compreensão de que o ser humano é parte integrante dos ecossistemas — ideia reforçada com a citação de Clive Ponting:

“Os seres humanos também fazem parte dos ecossistemas terrestres, mesmo nem sempre estando conscientes desse fato e de suas implicações.” (Ponting, 1995, p. 43)


O artigo resgata autores clássicos e contemporâneos — como Marc Bloch, Fernand Braudel, William Cronon e Alfred Crosby — para demonstrar como a História Ambiental surgiu como reação à visão humanocêntrica da história, que separava sociedade e natureza. A crítica de Donald Worster aparece como central, especialmente ao destacar que:

“A História Ambiental rejeita a premissa convencional de que a experiência humana teria se desenvolvido sem restrições naturais.” (Worster, 1991, p. 199)

O estudo também enfatiza que a História Ambiental exige uma abordagem temporal mais ampla, que inclua não apenas o tempo histórico, mas também o tempo geológico, com suas dinâmicas ecológicas, climáticas e biológicas. Os autores defendem que a adoção da História Ambiental no ensino pode contribuir significativamente para a formação de uma consciência ecológica crítica. Isso passa, necessariamente, pela superação da fragmentação entre disciplinas escolares — sobretudo entre as ciências humanas e naturais.

Para isso, propõem uma educação que situe os estudantes não apenas no tempo, mas também no espaço, ou seja, que integre as paisagens, os biomas e as marcas da ocupação humana aos conteúdos escolares. Um exemplo é a Mata Atlântica, que apesar de sua importância histórica e ambiental, é muitas vezes invisibilizada no ensino de História. Como destacam os autores:

“Devido à intensa exploração, resta apenas 5 a 12% da Mata Atlântica, principalmente em pequenos fragmentos florestais.” (Ferrão, 1992; Dean, 1996).

A pesquisa finaliza enfatizando que a História Ambiental, quando integrada ao ensino, pode ser um poderoso instrumento de Educação Ambiental, por meio da articulação entre teoria, pesquisa e práticas pedagógicas. É preciso, segundo os autores, que o ensino leve os estudantes a compreenderem que as ações humanas do passado moldam o presente — e comprometem o futuro. Assim existe uma urgência de uma educação comprometida com a sustentabilidade, capaz de formar sujeitos críticos, conscientes e atuantes. A sustentabilidade, portanto, é apresentada como um eixo transversal e necessário para uma pedagogia do presente e do futuro.

“Tecendo conexões sustentáveis” é um texto fundamental para educadores e pesquisadores que desejam compreender o potencial formativo da História Ambiental. Ao integrar teoria, crítica e propostas didáticas, o artigo convida à reflexão sobre como ensinar História de forma ambientalmente consciente e socialmente engajada.


📘 Autoras: Nathália Moro, Anelisa Mota Gregoleti e Christian Fausto Moraes dos Santos
📍 Publicado em: Revista Educação e Saber – REdeS, v. 2, edição especial dos Anais do II Seminário Internacional sobre Educação e Desenvolvimento Regional (2025), p. 47–56.
🔗 DOI: 10.24302/redes.v2ianais.5161

segunda-feira, 9 de junho de 2025

Desvendar a História Ambiental: um ensaio sobre abordagens e fontes, por José Augusto Drummond


Vamos tratar do texto Caminhos para a História Ambiental – Ensaio sobre Abordagens e Fontes, de José Augusto Drummond, publicado na revista HALAC – Historia Ambiental, Latinoamericana y Caribeña (v.15, n.1, 2025), p. 452–484. 🔗 Disponível em: https://halacsolcha.org/index.php/halac. 

Neste ensaio o pesquisador José Augusto Drummond compartilha de sua caminhada intelectual e  metodológica, que percorreu para construir sua leitura e prática da História Ambiental (HA). O texto se estrutura como uma jornada teórica, vivencial e interdisciplinar, revelando não apenas fontes e conceitos, mas também dilemas, encontros e influências decisivas.

Logo na introdução, o autor esclarece sua proposta: não pretende apresentar uma metodologia rígida, mas sim reunir “observações e aprendizados sobre abordagens e fontes referentes à história ambiental” (p. 452). Trata-se de um ensaio pensado a partir de uma palestra dada em 2023, o que lhe confere um tom informal, ao mesmo tempo crítico e didático. 

Drummond afirma sua filiação direta à abordagem do historiador Donald Worster, especialmente à proposta que ficou conhecida como perspectiva sócionaturalista. Essa perspectiva articula três eixos: (1) o ambiente biofísico, (2) as tecnologias de uso da natureza e (3) os valores e culturas humanas envolvidos nesse processo. Segundo o autor, para que uma pesquisa seja verdadeiramente uma história ambiental “de raiz”, ela precisa lidar com esses três níveis simultaneamente. Citando Worster, ele enfatiza:

“Um estudioso que pratica a HA de raiz [...] tem que lidar com as três dimensões.” (p. 455)

Ao longo do texto, Drummond apresenta autores que o influenciaram na construção de sua visão integrada: Julian Steward, Leslie White, Marvin Harris, Darcy Ribeiro e Carl Sauer. Ele reconhece, por exemplo, que Steward já trabalhava com uma abordagem tripartite semelhante à de Worster, sob o nome de “ecologia cultural” — estudando:

 “o quadro de recursos naturais disponíveis, as tecnologias de exploração desses recursos, e os valores e estruturas sociais que emergem daí” (p. 457).

Drummond lamenta que autores como Steward e Harris sejam pouco ensinados no Brasil e destaca que, embora associados ao evolucionismo cultural, suas propostas são centrais para pensar a história das interações entre sociedade e natureza de maneira materialista, porém crítica.

Um dos trechos mais provocativos do ensaio é quando Drummond discute o tempo geológico, muitas vezes ignorado pelos historiadores sociais. Segundo ele, praticar História Ambiental exige familiaridade com escalas temporais muito mais amplas do que as comumente trabalhadas nas ciências humanas.

“O praticante da HA precisa estar antenado para — e se sentir confortável com — as dilatadas escalas de tempo que marcaram o surgimento e mudança dos componentes da natureza.” (p. 463)

Ele também critica o “paradigma da imunidade humana” — a ideia, ainda presente em parte das ciências sociais, de que a natureza não condiciona a ação humana. Em contraposição, afirma que


“as sociedades humanas [...] não são imunes às ações e aos condicionantes das variáveis naturais.” (p. 464)


Drummond encerra com uma valiosa discussão sobre fontes, métodos e instituições voltadas à História Ambiental. Ele recomenda recursos como a revista HALAC, a Sociedad Latinoamericana y Caribeña de Historia Ambiental (SOLCHA) e outras plataformas nacionais e internacionais. Também defende o trabalho de campo, incentivando os pesquisadores a “calçarem as botas” e observarem diretamente as paisagens, as marcas humanas e os conflitos ambientais nos territórios que estudam (p. 465).

Drummond deixa claro que a História Ambiental não é uma simples subcategoria da História ou da Ecologia, mas sim uma ciência histórica com base interdisciplinar, que demanda domínio conceitual e abertura ao diálogo com diferentes campos do saber.

Em sua definição mais lapidar, ele afirma:

“A HA é o estudo das interações mútuas entre o mundo das sociedades humanas e o mundo da natureza, com a suposição de que as sociedades modificam a natureza e de que a natureza faz o mesmo com as sociedades.” (p. 466)


A leitura deste ensaio é fundamental para estudantes, pesquisadores e professores interessados na História Ambiental como prática crítica e transformadora. Com uma escrita clara, provocativa e generosa, José Augusto Drummond oferece aqui não apenas uma introdução ao campo, mas um verdadeiro manifesto pelo rigor e pela interdisciplinaridade na abordagem das questões socioambientais.

📖 Leia o artigo completo na revista HALAC:
🔗 Caminhos para a História Ambiental - HALAC 2025

quinta-feira, 5 de junho de 2025

🌱 Hoje é um dia especial: Dia Mundial do Meio Ambiente e aniversário de 21 anos do Grupo de Pesquisas de História Ambiental do Vale do Itajaí! 🎉

Hoje, 5 de junho, celebramos não apenas o Dia Mundial do Meio Ambiente, mas também um marco muito especial para a nossa comunidade acadêmica: os 21 anos do Grupo de Pesquisas de História Ambiental do Vale do Itajaí (GPHAVI), aqui na FURB.

A trajetória do nosso grupo é inspiradora. Surgimos a partir do entusiasmo e da iniciativa de um estudante interessados em pesquisar e compreender as complexas relações entre sociedade e natureza em nossa região. O GPHAVI nasceu a partir de uma Iniciação Científica. Ao longo dessas mais de duas décadas de atividades, mais de 60 estudantes participaram conosco, realizando Iniciações Científicas, Trabalhos de Conclusão de Curso, dissertações, tese de doutorado e diversas outras pesquisas que contribuíram para consolidar a História Ambiental como um campo de estudo fundamental no Vale do Itajaí e em Santa Catarina. 

Seguimos como formiguinhas, pouco a pouco produzindo com as Iniciações Científicas, como principal atividade, conhecimento sobre o Vale do Itajaí, ampliando o diálogo entre as Ciências Humanas, a Ecologia, a Geografia e outras áreas afins. Também, a partir das redes sociais, mantemos o compromisso com a divulgação científica, com este blogue, facebook, instagram e canal no youtube. E como sempre, na Universidade e região, promovendo eventos, publicações e ações que fortalecem e dão visibilidade à História Ambiental como uma perspectiva essencial para entender os desafios socioambientais contemporâneos. É uma necessidade pesquisar, refletir e intervir criticamente sobre as relações entre sociedade e meio ambiente, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e comprometidos com um futuro mais justo e sustentável.

Parabéns a todas e todos que fizeram e fazem parte dessa história! 🎊
Que venham muitos outros anos de pesquisa, aprendizado e transformação!


📚 Um dos mais recentes Trabalhos de Conclusão de Curso desenvolvidos no GPHAVI foi realizado por Juliano João Nazário, estudante que participou de três projetos de Iniciação Científica ao longo de sua graduação e encerrou sua trajetória acadêmica com o TCC intitulado: 

🔎 “GPHAVI: a contribuição de um grupo de pesquisa para a História Ambiental”.

✨ O estudo é uma importante reflexão sobre a atuação do grupo e sua relevância na consolidação da História Ambiental como campo de pesquisa no Vale do Itajaí. 👉 Para quem deseja conhecer mais sobre a nossa trajetória, este trabalho é leitura fundamental!

🎥 Assista à apresentação pública