"Eu sou o que me cerca. Se eu não preservar o que me cerca, eu não me preservo".
José Ortega y Gasset

domingo, 25 de agosto de 2019

O nome do Rio Itajaí e sua relação com a natureza

 Porto de Blumenau 1948 - vapor Blumenau - 
No Vale do Itajaí o rio significou a principal rota da demarcação da colonização. As colônias alemãs como Blumenau instalaram-se ao longo do curso do Rio Itajaí Açu e seus afluentes. As propriedades possuíam sua frente para o rio, e nos fundo a floresta e encosta do vale. Foram os rios que inicialmente desenharam as nossas cidades. O Rio Itajaí Açu começa na cidade de Rio do Sul, onde ocorre a junção do Itajaí do Sul, com o Itajaí do Oeste, até receber, pela margem esquerda, o seu maior afluente, o rio Hercílio ou ltajaí do Norte em Ibirama. "Em todo o seu percurso o Rio Itajaí-Açu atravessa terrenos acidentados, pequenas ilhas, em trechos é um rio de corredeiras, e itupavas surgem à cada volta prejudicando a navegação. Ganha força na travessia da Serra do Mar, fica apertado entre gargantas perigosas, numa eterna e gigantesca luta com as enormes montanhas de pórfiros que termina por vencer para espreguiçar-se, manso, calmo, de águas sujas e profundas, desde Blumenau" (ONDE, 1957), recebendo o Itajaí Mirim na cidade de Itajaí até desembocar no oceano Atlântico.

Mas de onde vem o nome que ele carrega? De onde vem o nome do rio que corta Blumenau? Qual é a relação do seu nome com a natureza da região? 

https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=448195
Para respondermos essas perguntas consultamos na página 23 da Revista nº02 da Blumenau em Cadernos o texto do almirante e historiador Lucas Alexandre Boiteux intitulado O Rio Itajaí - o Desvendamento da Costa - Mapas e Portulanos do tempo - Nomenclatura litorânea - Morfologia do nome. O texto Boiteux conta um pouco da história do nome do rio através dos mapas e discute seu topônimo, dando margem para interpretarmos a relação do nome com características naturais da região.

Conforme Boiteux (1957) as primeiras notícias de naus portuguesas em costas catarinenses datam do início do século XVI, mas seus registros não apontam para a existência de um rio com nome de Itajaí. Uma das principais fontes desse período são os mapas, e são raros os toponímicos referentes ou que indicam algo sobre o nosso rio Itajaí. Porém, a partir dos estudos do Padre Hafkemeyer sobre o famoso mapa dos Reinel registrado em Lisboa em 1516, ambos analisados por Boiteux, surgem as primeiras pistas que iniciam a traçar a história do nome do rio. Ao verificar o mapa, no trecho da costa catarinense aparece um curso de água chamado R.O das Voltas (Rio das Voltas), podendo ser este o primeiro nome do rio Itajaí. Também na cartografia de Maggiolo de 1519 e na Carta de Turin de 1523 existe referencia ao nome Rio das Voltas. Conforme o historiador o rio ganhou esse nome devido seu traçado sinuoso e afirma isso usando um outro documento onde consta o mesmo registro remetendo a sinuosidade do rio pelo colonizador Belga Van Lede, quando descreve o Itajaí Mirim no século XIX (BOITEUX, 1957).
O topônimo do rio, nas cartas mais antigas possui indicação de relação com o desenho de seu curso. No mapa marítimo de Diego Ribeiro 1529 aparece entre a região de São Francisco e a Ilha de Santa Catarina o desenho da embocadura de três rios, podendo ser os rios Itapocu, Itajaí e Tiucas. No Mapa de Ramúsio de 1563, escrito em espanhol aparece para o Rio Itajaí o nome Rio de las Bueltas (BOITEUX, 1957).
A partir do século XVIII cada vez mais o rio vai aparecendo nos mapas, e é encontrado com outra nomenclatura com idioma indígena. Na  publicação "Arte de Navegar e Roteiro" de Manoel Pimentel, publicação de 1710, quando situa o leitor sobre a presença do rio diz: "Dalli (Ens. das Garoupas) cousa de tres leguas está hum rio chamado Tajahug". Em outro documento, o autor da "Carta do governo do Rio da Prata até ao Brazil de 1717" cita baseado nos "Jornaes" de Emanuel Figueiredo, português, e de Teodoro Reuter, holandês, a referencia ao rio depois das Garoupas e a relação do nome com o povo nativo: "uma costa alta, até o rio que os índios chamam Tajahug" (BOITEUX, 1957). A maioria dos mapas do período já apresentam a nomenclatura do rio usando o idioma indígena, deixando de ter o nome conforme seu desenho, e passando a ser representado pela forma como os nativos o chamavam.
O historiador Boiteux apresenta uma lista com os mapas onde aparecem uma cronologia do nome do Rio Itajaí:

Revista Blumenau em cadernos, Tomo 1, n02
    
Esses nomes indígenas delegavam ao rio uma representatividade não mais geográfica, do desenho do seu curso, e durante algum tempo a incógnita sobre o seu significado produziu escritas diferentes sobre seu nome. fruto da percepção e interpretação dos cartógrafos sobre os toponímicos indígenas. Uma das versões para a origem do nome indígena é a presença da planta Xanthosoma sagittifolium Schott, também conhecida como Taiá. O nome do rio se aproxima muito ao da planta, que é um nome indígena, e como vemos no nome dos mapas, desde 1630 até 1808, o prefixo da palavra não possui a letra "I", remetendo mais ao "Taja", "Taia" ou "Taya" do que a de pedra, na qual o prefixo é "Ita".



Taiá
Essa nomenclatura indígena sofre alguma variação e aparece diferente para alguns autores. A partir do século XIX os documentos começam a inserir a letra "I" ao prefixo do nome, desenhando a palavra Itajahy: 

Revista Blumenau em cadernos, Tomo 1, n02

Essa alteração no nome ocorre devido as traduções do tupi-guarani realizada pelos "outros" sobre a forma que os nativos chamavam o rio. De rio do Taiá o rio foi denominado de Rio das Pedras. E essa origem pode estar atrelada ao sentido exposto no dicionário de Tupi Antigo, com referencia a pedra conhecida hoje como Bico de Papagaio que na sua forma original assemelhava-se a ave jaó, assim a palavra Itajaí-açu é composta por Ita=pedra; Jaí= a ave jaó; Açu=grande (NAVARRO, 2013).
Conforme Boiteux (1957) em um dos números da "Revista de Engenharia Militar" o general Vieira da Rosa, no texto "Mosaicos Literários" explica o significado dos nomes de diversos acidentes geográficos que possuem o nome tupi-guarani, abordando a origem do nome Itajaí, como originado de Itaju-hy, que significa Rio de Ouro, levantando a tese de que o rio teria recebido o nome devido as pedras de ouro que rolam, pois era o único curso de água que carrega pepitas auríferas dos terrenos do Itajahi-mirim e do Garcia. Para ele as duas outras explicações que antecediam sua tese sobre a origem do nome não correspondem. Em sua tese o significado de Itajaí Acu como Rio das Pedras não tem sentido, pois os índios chamariam todos os cursos de Itajaí, pois muitos carregam pedras, mas não com ouro. Outra possibilidade era a similaridade com o nome do Taiá, planta que era abundante no rio, mas conforme o general, tampouco seria essa a origem, pois nos rios do sul do Brasil existem taiás em abundancia, e os indígenas não chamam todos os rios de rios dos taiás. O general fazia questão de enfatiza a presença do ouro na nomenclatura (BOITEUX, 1957). 
Na conclusão de Boiteux (1957), a partir da documentação analisada o general estaria errado, pois os silvícolas sempre batizaram os locais com nomes referentes as características naturais. Os carijos, que teriam dado nome ao rio, teriam se impressionado mais com a quantidade de plantas aquáticas nos remansos e os taiás das margens, do que com as pepitas de ouro nas pedras de seu leito. Para Boiteux a origem do nome do rio teria sua origem no termo Rio do Taiá-í, ou rio da conhecida planta Taiá exuberante e importante na alimentação do povo indígena.

Como vimos a origem do nome do Rio Itajaí Açu inicia no mesmo período do descobrimento e até o século XVII, o rio era chamado Rio das Voltas devido seu traçado, suas curvas e vales que davam a impressão de muitas voltas. Uma interpretação baseada na condição da paisagem, do seu relevo. Do século XVIII até o fim do século XIX os nomes dados ao rio estão em idioma indígena tupi-guarani, originados pelas interpretações dos cartógrafos, e são claras as referências dadas a planta "Taiá", muito presente região até hoje. Com esse registro podemos imaginar nas margens do rio, em sua mata ciliar, a presença da planta. Acrescentasse a partir do fim do século XIX a referencia as pedras auríferas que rolam, ou seixos, e a explicação do dicionário que faz menção a história da pedra do papagaio na foz do rio, passou a ser uma terceira interpretação, e fundamenta-se na representação que uma pedra faz a uma ave importante na cultura carijo. Com isso podemos passar imaginar um rio sinuoso pelo relevo da serra do mar, repleto de taiás, com trechos repletos de pedras seixos, onde os nativos usavam o rio. Os documentos apresentam elementos que possibilitam alguns indicativos da descrição da paisagem do Rio Itajaí no seu passado histórico. Tanto os estudos de Boiteux, e os significado da palavra Itajaí-Açu no dicionário de tupi antigo enfatizam o papel do ambiente na organização do espaço através da criação de topônimos pelos povos originários. O Rio Itajaí Açu tem um nome que sua história está repleta de elementos que fazem parte da história das relações entre a sociedade e natureza na região. Este texto faz uma rápida pesquisa e leitura de dois documentos, e a história ambiental do Rio Itajaí-açu não termina por aqui. Se você tem interesse em conhecer a história do rio, venha participar de nosso grupo, e contribuir com a História Ambiental do Vale do Itajaí.

Referencias:
-BOITEUX, Lucas. A. O rio Itajaí - o desvendamento da costa - mapas e postulados do tempo - nomenclatura litorânea - morfologia do nome. Revista Blumenau em Cadernos, v1, n2, 1957. Disponível em: <http://hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/blumenau%20em%20cadernos/1957/BLU1957002_dez.pdf> Acesso em 25 de agosto de 2019.
-NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013.
-ONDE começa o grande Itajaí. Revista Blumenau em Cadernos, v1, n2, 1957. Disponível em: <http://hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/blumenau%20em%20cadernos/1957/BLU1957002_dez.pdf> Acesso em 25 de agosto de 2019.
FIGURA 1 Porto de Blumenau em 1948. Disponível em: <http://blumenauantigo.blogspot.com/2013/02/porto-de-blumenau-1948-vapor-blumenau-i.html> Acesso em 25 de agosto de 2019.

Para citar este texto use:

GARROTE, M.S. O nome do rio Itajaí e sua relação com a natureza. In: GARROTE, M.S. Blog do Grupo de Pesquisas de História Ambiental do Vale do Itajaí. Blumenau, 25 ago. 2019. Disponível em:<https://gphavi.blogspot.com/2019/08/o-nome-do-rio-itajai-e-sua-relacao-com.html>. Acesso em dia de mês de ano.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Pesquisador Nelson defende sua tese em Desenvolvimento Regional

https://npdr.wordpress.com/
No dia 21 de agosto o pesquisador do grupo Nelson Afonso Garcia Santos defendeu sua tese de doutorado em Desenvolvimento Regional cujo título é: Tecnologia social e economia solidária contra o desenvolvimento capitalista brasileiro: lições do desenvolvimento local sustentável cubano

Segundo Nelson, o desenvolvimento é um conceito fortemente presente e de fundamental importância no pensamento contemporâneo. Ele se tornou objeto de desejo de amplos setores do espectro político internacional e atrai adeptos de diferentes matizes ideológicas, unificando ricos e pobres em torno de si. Ele é como um ethos que paira sobre quase todas as sociedades e, também, um ponto de chegada que deve ser alcançado. Ele se tornou o responsável pela felicidade humana: “Povo feliz é povo desenvolvido!”. Isso significa que ele foi fetichizado, ou seja, que se atribuiu a ele um poder que ele, verdadeiramente, não tem. Neste estudo, mostraremos que o fetiche do desenvolvimento é uma construção histórica para que o entenda como um conceito neutro, dissociado da organização capitalista de produção, voltado para o bem, para o melhor, para a perfeição. Para que se realize de forma linear e progressiva, há que se ter outra noção também fetichizada: a da tecnologia. Por uma perspectiva não crítica, a tecnologia é entendida como parte de um processo evolutivo. Assim, a tecnologia atual é sempre superior à tecnologia anterior, e a tecnologia que está por vir será sempre melhor que a tecnologia atual. É nessa sucessão de avanços tecnológicos que, aparentemente, repousa o desenvolvimento da sociedade. Entretanto, não é bem assim. Mostraremos que por trás do conceito de desenvolvimento se oculta um processo que é desigual, injusto e gera alto impacto ambiental. Contra a visão fetichizada do desenvolvimento serão apresentadas abordagens críticas do desenvolvimento. E contra a visão fetichizada da tecnologia serão apresentadas perspectivas críticas da tecnologia. Ver-se-á que convergem para os movimentos da tecnologia social, da economia solidária e do desenvolvimento local. A aproximação destes três movimentos contribui para a construção de alternativas ao aparato produtivo baseado nas tecnologias convencionais que tem impulsionado o desenvolvimento capitalista. A pesquisa revelou que é possível distinguir entre a tecnologia capitalista e a tecnologia social. É possível falar em tecnologia socialista? Para responder a esta questão, deu-se outro momento da investigação, que contemplou a busca de dados sobre a realidade socioeconômica e científico tecnológica de Cuba. Considerando sua história, tanto a etapa revolucionária quanto o período pós-revolucionário, com o recurso à pesquisa bibliográfica e documental, assim como, à realização de uma pesquisa de campo com a realização de entrevistas, pode-se identificar que aquele país tem se empenhado em implantar um “desenvolvimento local sustentável”, assentado em um processo de produção baseado em gestão cooperativa e adequação tecnológica. Os resultados apontam que os princípios da economia solidária e da tecnologia social adotados no Brasil se aproximam dos princípios que informam o desenvolvimento local sustentável cubano. Mas existem especificidades próprias do desenvolvimento local sustentável cubano como, por exemplo, a existência de um Fórum de Ciência e Técnica e a atuação da universidade voltada para a solução de problemas da comunidade local por intermédio da ciência, tecnologia e inovação. Três casos exitosos da relação entre universidade e desenvolvimento local podem explicitar essa realidade, permitindo verificar a relevância da universidade na melhoria da qualidade de vida das comunidades locais. 

Palavras-chave: Brasil. Cuba. Desenvolvimento. Desenvolvimento local sustentável. Economia solidária. Tecnologia social.

Para conhecer a tese do pesquisador Nelson clique aqui
Para conhecer o Núcleo de Pesquisas em Desenvolvimento Regional clique aqui.

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Pesquisador do grupo defenderá sua pesquisa de doutorado em agosto

Esta marcada a data de defesa da pesquisa de doutorado do pesquisador Nelson Afonso Garcia Santos. A tese trata do tema da tecnologia social e a economia solidária apontando experiências do desenvolvimento local sustentável. A pesquisa foi orientada pelo Dr. Ivo Marcos Theis professor e pesquisador no Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da FURB. A defesa ocorrerá no dia 21 de agosto de 2019, as 9h na sala 101 do Bloco F, Campus 1 da FURB.

Segue o convite do PPGDR:


DEFESA PÚBLICA DE TESE




O Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade Regional de Blumenau convida toda a comunidade, para assistir a defesa pública de tese do doutorando  NELSON AFONSO GARCIA SANTOS  cujo título é:

“TECNOLOGIA SOCIAL E ECONOMIA SOLIDÁRIA CONTRA O DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA BRASILEIRO: lições do desenvolvimento local sustentável cubano


Banca Examinadora:

Prof. Dr. Ivo Marcos Theis - FURB
Prof. Dr. Cidoval Morais de Sousa  –  UEPB
Prof Dr. Henrique Tahan Novaes  – UNESP/MARILIA
Prof. Dr. Carlos Alberto C. Sampaio – FURB
Prof. Dr. Adolfo Ramos Lamar– FURB
Suplentes
Prof. Dr. Valmor Schiochet – FURB
Prof. Dr. Maiko R. Spiess  - FURB


Dia: 21 de agosto de 2019 (quarta-feira)
Horário: 09:00 horas
Local: F 101
Campus 1 da FURB



quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Hemeroteca Digital Catarinense - fonte de periódicos


A Hemeroteca Digital Catarinense tem por objetivo divulgar o acervo documental de publicações periódicas, em especial jornais editados e publicados em Santa Catarina a partir do século XIX. A iniciativa que resultou no acervo digitalizado partiu do Centro de Ciências Humanas e da Educação (FAED) / IDCH - Instituto de documentação e Investigação em Ciências Humanas da Universidade do Estado de Santa Catarina e a Biblioteca Pública de Santa Catarina - Fundação Catarinense de Cultura. 

Entre jornais como Correio do Povo, O Estado, a Gazeta, a Revista Blumenau em Cadernos, os pesquisadores podem localizar por município, ou pelo nome do jornal. Para conhecer e acessar as fontes da Hemeroteca Digital Catarinense clique aqui.