"Eu sou o que me cerca. Se eu não preservar o que me cerca, eu não me preservo".
José Ortega y Gasset

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

História da Produção Artesanal de Cal no Município de Botuverá (Médio Vale do Itajaí-Mirim)

Por José Rodrigo Sasseman* e Gilberto Friedenreich dos Santos
GPHAVI - Departamento de História e Geografia - Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional - FURB   E-mail de contato: frieden@furb.br
As interações entre sociedade e natureza no processo histórico e as transformações ambientais decorrentes, constituem a historiografia atual denominada História Ambiental. Através desta linha de pesquisa pretende-se entender as relações sociedade e natureza no processo histórico de exploração artesanal do cal, no município de Botuverá (SC).
Figura 1 - Mapa da área de estudo
O município de Botuverá está situado no Médio Vale do Itajaí-mirim no Estado de Santa Catarina, a 21 km de Brusque. A cidade tem uma área total de 303,02 km² sendo que cerca de 2,5 km² é de área urbana e 300,52 km² de área rural (figura 2). O relevo do município é acidentado, sendo compostos de 18,2% com planícies 50% encostas e 31,8% de montanhas  (ARONONI; PASSOS, 2003; PREFEITURA MUNICIPAL DE BOTUVERÁ, 2012).
Para compreender a historia ambiental da comunidade foram descritas as características naturais do território a partir de análise de campo com equipe multidisciplinar e pesquisa bibliográfica; identificação de fontes históricas, escritas e não escritas (memória ambiental, materiais iconográficos), e entrevistas pelo método da história oral, buscando compreender o processo histórico de exploração do cal no período das décadas de 1930 a 1980, que neste caso acontecia de forma muito rudimentar, pois todo trabalho era braçal, e sem recursos de maquinário industrial.
Figura 2 - Paisagem local
A exploração  artesanal do cal teve seu início na década de 1930 atingindo seu auge na década de sessenta, e encerrando suas atividades nos anos de 1980. O trabalho nas pedreiras de calcário consistiam em fazer furos nas pedras com a utilização de marretas, e este processo era árduo e dependia totalmente de força humana. Depois das pedras detonadas, as mesmas eram colocadas manualmente em um caminhão. As pedras que ainda estavam um pouco presas eram soltas com garfões e alavancas, tudo isso manualmente. Essas eram transportadas até os fornos. Em Botuverá existiam dois tipos de fornos, os chamados de ”fornos de barranco” que o próprio nome já diz, eram feitos nas encostas de barranco, e os fornos contínuos (figura 3), que a princípio eram menos frequentes.

Figura 3 - Fornos de Cal
Após colocadas nos fornos as pedras de calcário eram queimadas. Para queimar uma fornada, demoravam de 4 a 5 dias,  para este processo eram utilizados cerca de quarenta e cinqüenta metros de lenha. Através das entrevistas feitas descobrimos que os moradores iam buscar lenha  da floresta e derrubavam a vegetação sem controle algum. Após queimar e esfriar as pedras eram levas até o moinho, que por sua vez era a ultima etapa. Em um primeiro momento na inexistência de fornecimento de energia elétrica na região, os moinhos eram movidos a água (Figura 4).
Em relação as consequências da exploração artesanal do cal, onde os trabalhadores sofriam muito com as condições que essa atividade econômica exercia sobre eles,
Figura 4 - Moinho de Cal
além do pó do cal ser extremamente prejudicial a saúde, o calor nos fornos traziam grandes sofrimentos aos trabalhadores. Na década de setenta a implantação da carteira de trabalho, e o conhecimento de leis trabalhistas as condições aos trabalhadores nesse sentido melhoraram de forma gradativa. 
Existem alguns fatores que auxiliaram para o fim da exploração do cal de maneira artesanal, que por sua vez aconteceu na década de 1980. O avanço da tecnologia, as lei trabalhistas e ambientais muito mais rigorosas, hoje em dia a exploração do cal é feita apenas de maneira industrial.

*Pesquisa desenvolvida com bolsa PIPe Art. 170 \Estado e Santa Catarina

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