"Eu sou o que me cerca. Se eu não preservar o que me cerca, eu não me preservo".
José Ortega y Gasset

domingo, 18 de maio de 2025

Chamada para seleção de Projetos de Iniciação Científica – PIBIC-CNPq 2025

O GPHAVI, vinculado ao Departamento de História e Geografia da FURB, e Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional, está selecionando propostas de projetos de Iniciação Científica de estudantes da graduação para concorrer ao edital PIBIC-CNPq 2025.

As inscrições vão de 07 de abril a 02 de junho de 2025, e estudantes de graduação da FURB interessados em pesquisa nas áreas de História e Meio Ambiente estão convidados a participar.

📘 O que é História Ambiental?
A História Ambiental é uma abordagem historiográfica interdisciplinar que busca compreender a interação entre sociedades humanas e a natureza ao longo do tempo. Segundo o historiador Donald Worster, um dos fundadores da disciplina, a História Ambiental “estuda o papel desempenhado pelo ambiente natural no curso da história humana, assim como o impacto das ações humanas sobre esse ambiente”. Em outras palavras, é uma história que considera tanto os seres humanos quanto o mundo natural como protagonistas do processo histórico.

Essa perspectiva permite analisar como práticas econômicas, culturais e políticas transformaram paisagens, alteraram ecossistemas e moldaram modos de vida. No contexto do Vale do Itajaí, marcado por uma intensa colonização e exploração da Mata Atlântica, a História Ambiental revela os conflitos, adaptações e consequências ambientais da ocupação do território.

💬 Por que participar de uma Iniciação Científica no GPHAVI?

Fazer parte do GPHAVI significa integrar um grupo com 20 anos de experiência comprometido com a produção de conhecimento crítico e interdisciplinar, voltado à compreensão histórica dos impactos ambientais e à busca por alternativas sustentáveis para o futuro. A iniciação científica é uma oportunidade de aprofundar sua formação acadêmica, desenvolver habilidades de pesquisa e contribuir para debates relevantes sobre o território em que vivemos.

No GPHAVI estudantes de graduação de diferentes áreas — como História, Ciências Sociais, Comunicação Social, Jornalismo, Arquitetura, Biologia, Engenharias, Biomedicina, entre outras — podem submeter propostas de Iniciação Científica vinculadas às temáticas que analisamos ao longo desses anos de pesquisa. Assim as propostas devem dialogar com os desenvolvimento das pesquisas do grupo, em uma ou mais de nossas linhas de pesquisa, que articulam a relação entre sociedade e natureza, nas mais diversas dimensões.

São temas interessantes:

-Estudos que abordem as relações entre a natureza e a ação humana no processo de desenvolvimento do território do Vale do Itajaí, considerando aspectos econômicos, sociais e culturais, com foco em eventos históricos e transformações paisagísticas.

-Estudos que analisam como a paisagem é construída, percebida e representada social e culturalmente ao longo do tempo, por meio de fontes como relatos de viajantes, mapas, imagens, documentos administrativos e literatura.

-Estudos que abordem as interações entre grupos sociais e a biodiversidade regional, com atenção às práticas culturais, modos de subsistência, saberes locais e tradicionais, e sua relação com o uso e conservação dos recursos naturais.

-Estudos sobre os desastres naturais e os processos de vulnerabilidade socioambiental, compreendendo-os como resultantes de dinâmicas históricas e da intervenção humana no ambiente, especialmente em tempos de crise climática.

-Estudos que explorem as transformações ambientais associadas à colonização europeia na região, destacando os saberes, práticas e impactos das populações imigrantes na paisagem e na biodiversidade local.

🌍 Conheça as linhas de pesquisa do GPHAVI

História Ambiental
Esta é a linha matriz do GPHAVI, centrando-se na identificação dos processos e modificações ambientais resultantes da interação entre sociedade e natureza, desde os primórdios da humanidade até os dias atuais. Analisamos as mudanças ambientais ao longo do tempo para compreender melhor os desafios atuais e desenvolver estratégias sustentáveis. Um exemplo emblemático desta linha é o projeto guarda-chuva do GPHAVI: investigar a História Ambiental do Vale do Itajaí. Aqui, exploramos como a ocupação humana e as práticas culturais moldaram a paisagem e os ecossistemas da região.

História Ambiental do Desenvolvimento Regional
Esta linha se dedica a identificar e compreender os processos históricos de ocupação e uso dos recursos naturais que moldaram o desenvolvimento regional. Analisamos as problemáticas ambientais decorrentes desses processos para propor modelos e indicadores de desenvolvimento mais sustentáveis, visando uma gestão equilibrada dos recursos naturais. Nosso objetivo é traçar um panorama histórico que ilumine as melhores práticas para o desenvolvimento sustentável da região.

Desenvolvimento Regional Sustentável
A linha de Desenvolvimento Regional Sustentável visa uma análise aprofundada do território, explorando sua diversidade histórico-cultural e os impactos socioambientais. Pesquisamos temas como gestão e análise de políticas públicas, governança, planejamento urbano e regional, e turismo. Também investigamos dinâmicas socioeconômicas, como economia solidária, ciência e tecnologia, e redes de cooperação. Nosso objetivo é promover processos efetivos de desenvolvimento regional sustentável, considerando a interconexão entre diferentes fatores que impactam a região.

Tecnologia Social, Desenvolvimento Regional e Sustentabilidade Ambiental
Nesta linha, investigamos a produção de tecnologias sociais e sua relação com o desenvolvimento regional e a sustentabilidade ambiental. Buscamos compreender como inovações tecnológicas podem ser aplicadas de maneira eficaz para promover práticas sustentáveis, contribuindo para o progresso regional de forma equitativa e ecologicamente responsável.

Ecologia da Paisagem
Abordamos a inter-relação entre processos ecológicos e a dinâmica de transformação da paisagem. Nossa pesquisa combina a perspectiva espacial do geógrafo com a visão sistêmica do ecólogo, visando compreender as complexas interações entre elementos naturais e antrópicos. Contribuímos para a gestão ambiental, oferecendo insights valiosos sobre como as mudanças ecológicas influenciam a configuração da paisagem ao longo do tempo.

Geografia Histórica
A linha de Geografia Histórica concentra-se na reconstrução de paisagens geográficas de eras anteriores e no Antropoceno. Investigamos a interação dos fenômenos e processos humanos com o ambiente ao longo do tempo, buscando oferecer uma visão aprofundada das transformações geográficas. Nossa pesquisa auxilia na compreensão das raízes históricas dos desafios ambientais atuais, fornecendo uma base sólida para soluções futuras.


📝 Estrutura do Projeto
As propostas de Iniciação Científica deverão seguir a seguinte estrutura:

Título do projeto
Resumo (até 500 palavras)
Introdução e justificativa
Objetivos (geral e específicos)
Revisão bibliográfica
Metodologia
Cronograma de atividades  com pano de trabalho. (12 meses)
Referências Bibliográficas

📌 Critérios para participação do estudante no PIBIC-CNPq (2025)

Para participar da seleção de bolsistas do PIBIC-CNPq no GPHAVI, o(a) estudante deve atender aos seguintes requisitos:

Estar regularmente matriculado(a) em curso de graduação da FURB
Não estar inadimplente com a instituição
Não participar do Programa Universidade Gratuita
Não acumular outra bolsa ou recurso de fomento público (municipal, estadual ou federal)
Verificar os critérios atualizados para bolsistas no site oficial do CNPq – Programa PIBIC
Ter disponibilidade para cumprir uma carga horária de 20 horas semanais, divididas entre atividades de pesquisa presenciais e remotas, incluindo participação nas ações do grupo GPHAVI.

📅 Período de inscrições: 07/04 a 02/06/2025

Os interessados devem agendar uma reunião para apresentação do projeto, entrar em contato no e-mail: gphavi01@gmail.com


quinta-feira, 1 de maio de 2025

A História Ambiental e 01 de maio!


O Dia do Trabalhador, celebrado em 1º de maio, é marcado pela memória das lutas por condições dignas de trabalho, como a que ocorreu em 1886, nos Estados Unidos, com a Greve de Chicago. No entanto, ao pensar essa data por uma perspectiva da História Ambiental, percebemos que ela também é o marco simbólico de um processo mais amplo de transformação: a consolidação da Revolução Industrial e suas consequências para os trabalhadores e para o meio ambiente.

A partir da segunda metade do século XVIII, a industrialização alterou profundamente não só as formas de produção, mas também os espaços e as relações entre seres humanos e a natureza. A instalação de fábricas, a exploração intensiva dos recursos naturais e o crescimento desordenado das cidades promoveram uma verdadeira reconfiguração das paisagens. Rios foram desviados ou contaminados; florestas foram derrubadas para dar lugar a ferrovias, bairros operários e complexos industriais; o ar se encheu de fuligem, e o solo urbano se cobriu de resíduos industriais.

Uma paisagem industrial da década de 1830 em Nantyglo, Blaenau Gwent, no Reino Unido, retrata o intenso desenvolvimento siderúrgico da época. Diversas chaminés lançam fumaça no ar, enquanto uma ponte se destaca como elemento central da cena, simbolizando a transformação do espaço pela industrialização.

Fonte: Revolução Industrial – Wikipédia




A lógica capitalista da produção em larga escala, movida a carvão e depois a petróleo, consolidou um modelo de desenvolvimento que se apoiava na degradação ambiental como algo natural e necessário. A busca incessante por lucro e produtividade transformou a natureza em recurso a ser exaurido, e os trabalhadores, em meros instrumentos de produção. As cidades industriais, como Manchester, Londres e Chicago — palco das manifestações que originaram o 1º de maio — tornaram-se símbolos dessa nova era. Mas esses centros urbanos também se tornaram espaços de insalubridade extrema, onde operários viviam em cortiços superlotados, rodeados de esgoto, fumaça e doenças.

A Revolução Industrial, portanto, não foi apenas uma revolução tecnológica ou econômica: foi uma revolução territorial e ambiental. Os espaços rurais foram esvaziados de gente e sentidos, enquanto as cidades cresciam de forma caótica, sem planejamento, num cenário de profunda desigualdade socioambiental. A degradação do meio ambiente urbano acompanhou o processo de exploração do trabalho humano. A fábrica, símbolo do progresso industrial, era também o local onde corpos eram adoecidos por jornadas exaustivas, ruído constante, calor, poeira, intoxicação química e a ausência quase completa de segurança.

A imagem retrata uma criança puxando um carrinho carregado de carvão em uma mina durante a Revolução Industrial britânica. Essa cena ilustra as duras condições de trabalho infantil da época, marcadas por jornadas exaustivas, espaços confinados e ausência de proteção, refletindo a exploração extrema que caracterizou o trabalho nas minas.

Fonte: A Mineração de Carvão na Revolução Industrial Britânica – World History Encyclopedia



Essa destruição do equilíbrio entre sociedade e natureza tornou-se estrutural ao sistema capitalista. E é nesse ponto que a História Ambiental lança luz: ao nos mostrar que o modelo de produção que oprime o trabalhador é o mesmo que devasta o ambiente. A luta dos operários por condições dignas de trabalho é, também, uma luta por condições dignas de vida — e isso inclui o direito a um ambiente saudável.

A modernização, que tantas vezes é vendida como "progresso", veio acompanhada da expropriação tanto da força de trabalho quanto dos territórios. Na perspectiva da História Ambiental, o 1º de maio deve nos lembrar não só da resistência ao modelo de exploração humana, mas também da resistência ao modelo de exploração da natureza. A destruição ambiental e a degradação das condições de vida andam juntas — e a urbanização descontrolada, os bairros operários cercados de poluição e a atual crise climática são desdobramentos contínuos daquele mesmo processo iniciado nos séculos XVIII e XIX.

No século XXI, os desafios persistem. Os trabalhadores de aplicativos enfrentam jornadas extensas, sem proteção legal, e circulam em cidades congestionadas, poluídas e fragmentadas. A tecnologia que prometia aliviar a carga de trabalho muitas vezes tem servido para intensificá-la. A lógica da mais-valia continua a pautar o uso tanto da natureza quanto da vida humana como matéria-prima descartável.

Assim, o 1º de maio deve ser resgatado como uma data de luta e reflexão não apenas sobre os direitos trabalhistas, mas sobre os caminhos do desenvolvimento que temos escolhido. Um mundo mais justo exige pensar trabalho e meio ambiente como dimensões inseparáveis da dignidade humana. E exige reconhecer que a justiça social e a justiça ambiental caminham lado a lado — ontem, hoje e sempre.