"Eu sou o que me cerca. Se eu não preservar o que me cerca, eu não me preservo".
José Ortega y Gasset

domingo, 27 de maio de 2012

Artigo: Pequena história ambiental da Mata Atlântica do Parque Natural Municipal Nascentes do Garcia

Entre os dias 23 à 30 de maio de 2008 foi realizado na Universidade Federal de Minas Gerais o maior evento de História Ambiental já realizado no país (até aquele momento): o IV Simpósio da Sociedade Latino Americano e Caribenha de História Ambiental. Os pesquisadores Gilberto e Martin foram no evento e apresentaram um resumo da pesquisa realizada pelo (na época) estudante de história Martin. Projeto que em 2004 daria origem ao GPHAVI. Segue a seguir o texto que foi apresentado na modalidade pôster e publicado nos anais do evento:

 Pequena história ambiental da Mata Atlântica do Parque Natural Municipal Nascentes do Garcia


Martin Stabel Garrote
Vanessa Dambrowski
Gilberto Friedenreich dos Santos



O estudo trata da História Ambiental da Mata Atlântica hoje protegida pelo Parque Natural Municipal Nascentes do Garcia- PNMNG, localizado na região sul do município de Blumenau, Vale do Itajaí, Santa Catarina. 
Mapa de localização do PNMNG em Blumenau
Antes da região ser protegida como uma unidade de conservação, haviam pequenos aglomerados de colonos nas áreas mais planas, como a da Nova Rússia. Essa comunidade viveu do uso dos recursos naturais de forma descontrolada, ocasionando a escassez e até extinção de algumas espécies. Toda essa relação de exploração homem natureza ocasionou mudanças drásticas em diversos fatores ecológicos da Mata Atlântica daquele local. E é através da História Ambiental que torna-se possível evidenciar as ações antrópicas e as suas conseqüências à floresta e à comunidade.  


Imagem da região do PNMNG em 2008, foto do autor

O objetivo desta pesquisa foi apontar as influências antrópicas ocorridas na Mata Atlântica da região hoje preservada pelo PNMNG, em Blumenau, desde a chegada dos primeiros europeus até o momento da preservação da região.  Para a realização do estudo recorreu-se a fontes secundárias: bibliografias, periódicos, relatórios de pesquisas, monografias e teses, em acervos particulares e paginas da internet. E levantamento de fontes primárias com o uso da História Oral na comunidade da Nova Rússia. Foram entrevistados 10 antigos moradores na comunidade, um ecólogo, um especialista em ornitologia e uma botânica que realizam pesquisas na região. A análise dos dados partiu de um olhar voltado para a história ambiental.

Para compreender as relações entre a natureza e a sociedade na região hoje protegida pelo PNMNG, tomamos como pressuposto teórico para a nossa análise a historiografia ambiental, conhecida como História Ambiental. Essa linha historiográfica surge devido descontentamento pela historiografia praticada na primeira metade do século XX, adicionada pelos fatores ocasionados pelo descaso humano em relação a conservação da natureza,  (WORSTER, 1991, p.1-2).  A História Ambiental é um campo disciplinar que inaugura com uma construção social do conceito de meio ambiente. Desvendando através dos estudos entre natureza e sociedade nos diversos processos históricos, um olhar para o passado eco-destruidor e outro para o futuro sustentável. Seu estudo tem uma definição de campo delimitado em um território, na cultura e temporalidade para cada estudo (LEFF, 2005, p.15).  


Paisagem do PNMNG - foto Acervo do IPAN
Povos nativos do Sul do Brasil - Acervo do AHJFS
A Floresta Atlântica da região aonde foi criado o Parque das Nascentes cobre uma infinidade de vales profundos que juntos compõem a cadeia montanhosa da Serra do Itajaí. A floresta esta composta por mais de 350 espécies de árvores, arbustos entres outros vegetais de pequeno porte, abrigando mais de 240 espécies de aves, 65  de mamíferos, 39 anfíbios, 10 répteis e 10 espécies de peixes (Parque das Nascentes, 2007). A Floresta Atlântica da região do PNMNG, antes da sua colonização pelos europeus no século XIX, tinha a influência do nômade Xokleng.

A Mata Atlântica da região do parque passou a sofrer intensa exploração de suas espécies a partir de 1890, com o início da mineração, sendo que em 1920 já havia no local um pequeno núcleo colonial sobrevivendo da exploração dos minérios e da madeira, lavoura, palmito e caça.  Cerca de 60 famílias de origem prussiana, alemã e italiana colonizaram a região até 1950, permaneceram no local, vivendo da caça, pesca, da água dos diversos ribeirões do local, dos solos férteis, para a lavoura, na qual a coivara era predominante. A partir de 1950, famílias iniciam a deixar o local devido a instalação de moradias para atrair funcionários para a Empresa de Artefatos Têxteis Garcia. Ao mesmo tempo madeireiras com maquinários iniciam o processo de exploração de madeira no qual perdurou até finais de 1980. A comunidade passa a receber os benefícios da urbanização, e ao mesmo tempo sofrer com alterações no ambiente.



Caçada realizada no interior do PNMNG, 1950 - Acervo GPHAVI

Caçada próxima da Fazenda Faxinal, 1950 - Acervo do GPHAVI



Com as constantes chuvas típicas de verão,  enxurradas prejudicavam as moradias e as benfeitorias dos colonos. Com a perca do habitat espécies antes caçadas passam a desaparecer, ameaçando a biodiversidade da Mata Atlântica do parque. A colonização da região do PNMNG impôs diversas influências antrópicas à floresta. Dela foram explorados minérios, a madeira intensivamente, a caça, esgotando a fauna, o palmito, os mananciais de água e o solo. Tendo de 1890-1920 uma exploração moderada com finalidade para a subsistência, e entre 1920-1990, uma exploração intensiva e devastadora até o momento de criação do parque em 1998.  



Segue o Pôster que foi apresentado no evento (clique para ampliar):

Para citar esse artigo:


GARROTE, M. S. ; SANTOS, G. F. ; DAMBROWSKI, Vanessa . Pequena História Ambiental da Mata Atlântica do Parque Natural Municipal Nascentes do Garcia, Blumenau - SC. In: IV Simpósio da Sociedade Latino-Americana e Caribenha de História Ambiental, 2008, Belo Horizonte. História Ambiental e Cultura da Natureza: Resumos do IV Simpósio da Sociedade Latino-Americana e Caribenha de História Ambiental. Diamantina : Maria Fumaça, 2008. p. 173-173.



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