"Eu sou o que me cerca. Se eu não preservar o que me cerca, eu não me preservo".
José Ortega y Gasset

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Integrando os níveis da História Ambiental: Natureza, Sociedade e Pensamento

Ao adentrar a pesquisa de História Ambiental, o Historiador Ambiental Donald Worster destaca a importância de considerar três distintos níveis de estudo e integrá-los de forma harmoniosa na narrativa e nos resultados. 

O primeiro nível se concentra no entendimento da natureza em si, sua organização e funcionamento ao longo do tempo. Isso engloba tanto os elementos orgânicos quanto os inorgânicos, inclusive o papel do ser humano nas complexas cadeias alimentares ecológicas. Este estágio exige a exploração de obras de História Natural, Ecologia, levantamentos florísticos e faunísticos, além de estudos biológicos, visando descrever com detalhes uma região específica. É fundamental apresentar as características tanto abióticas quanto bióticas do ambiente.

O segundo nível da história ambiental introduz o componente socioeconômico, demonstrando sua interação com o ambiente. Aqui, o foco recai sobre as ferramentas de trabalho, as relações sociais que emergem desse contexto laboral e os diversos métodos criados pelos povos para produzir bens a partir dos recursos naturais. Comunidades com atividades como a pesca marítima possuem instituições, papéis de gênero e ciclos sazonais singulares se comparadas àquelas que se dedicam à criação de ovelhas nas altas montanhas. A distribuição desigual do poder na sociedade influencia as decisões que afetam o ambiente, sendo crucial analisar tais configurações de poder neste nível de estudo. É necessário descrever como a sociedade extrai matéria e energia do ambiente para seu desenvolvimento, compreendendo como o trabalho transforma elementos naturais em recursos utilizados no ambiente construído. Isso inclui a descrição das atividades humanas, processos de ocupação, exploração, avanços tecnológicos e seus impactos ambientais.

O terceiro nível de análise proposto por Worster é o mais intrínseco e exclusivamente humano, abordando aspectos mentais e intelectuais. Aqui, entram em cena percepções, valores éticos, leis, mitos e outras estruturas de significação que permeiam o diálogo entre indivíduos ou grupos e a natureza. As pessoas constantemente moldam sua visão de mundo, definem recursos, determinam comportamentos ambientalmente responsáveis e escolhem seus objetivos de vida. Neste ponto, é essencial descrever como a sociedade em estudo concebe a natureza e, a partir disso, como o ambiente natural e social se entrelaçam na cultura, evidenciando como natureza e cultura se influenciam mutuamente. Além disso, é importante explorar quais elementos psicológicos sustentam a concepção de natureza, desde sua transformação do elemento natural até sua integração no contexto social.

Worster ressalta que, apesar da distinção para fins de clareza, esses três níveis de estudo ambiental constituem, na verdade, uma investigação única e dinâmica. Aqui, natureza, organização social e econômica, pensamento e desejos são tratados como partes de um todo interligado. Essa totalidade se transforma conforme a evolução da natureza e das pessoas, numa dinâmica que atravessa todo o passado e persiste até o presente. Em suma, este é o cerne do programa da nova história ambiental: produzir uma narrativa integrada que englobe e harmonize os diferentes níveis de estudo.

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